segunda-feira, 24 de outubro de 2011

SERMÃO DE JOHN WESLEY - SÔBRE A QUEDA DO HOMEM

Sobre a Queda do Homem
John Wesley


'No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás'. (Gênesis 3:19)


1. Por que existe dor no mundo; vendo que Deus 'ama a todo o homem, e sua misericórdia é sobre todas as suas obras?'. Porque existe pecado: Não existisse pecado, não haveria dor. Mas dor (supondo-se que Deus seja justo) é o efeito necessário do pecado. Mas, por que ainda existe pecado no mundo? Porque o homem foi criado à imagem de Deus: Porque ele não é uma mera matéria, um torrão de terra, uma massa de argila, sem consciência ou entendimento; mas um espírito como seu Criador; um ser humano dotado, não apenas com senso e entendimento,  mas também, com uma vontade, manifestando-se em várias afeições. Para coroar todo o restante, ele foi dotado de liberdade; um poder de direcionar suas próprias afeições e ações; uma capacidade de decidir-se, ou de escolher o bem e o mal. De fato, se o homem não tivesse sido dotado com isto, tudo o mais seria de nenhuma utilidade: Se ele não fosse um ser humano livre e inteligente, seu entendimento não seria capaz da santidade, ou de qualquer espécie de virtude, como uma árvore ou um bloco de mármore. E tendo este poder, um poder de escolher o bem e o mal, ele escolheu o último: Ele escolheu o mal. Assim, 'o pecado entrou no mundo', e a dor de todo tipo, preparatória para a morte. 

2. Mas este claro e simples relato da origem do mal, se natural ou moral, toda a sabedoria humana não pôde descobrir, até que agradou a Deus revelá-la para o mundo. Até, então, o homem foi um mero enigma a si mesmo; um mistério que ninguém, a não ser Deus poderia resolver. E de que maneira completa e satisfatória Ele resolveu isto neste capítulo! De tal maneira, como, realmente, a não gratificar a curiosidade vã, mas sendo abundantemente suficiente para responder a uma finalidade mais nobre, justificar os caminhos de Deus com os homens.  

            Para esta grande finalidade, eu queria,

I.                   Primeiro, considerar brevemente a parte precedente deste capítulo; e, então,
II.                Em Segundo Lugar, mais particularmente, pesar  as palavras solenes que Ele já relatou.

I

1. Em Primeiro Lugar, vamos considerar brevemente a parte precedente deste capítulo. 'Ora, a serpente era mais astuta', ou inteligente', 'que todas as alimárias do campo que o Senhor Deus tinha feito'. (Gênesis 3:1) – dotada com mais entendimento, do que qualquer outro animal, na criação bruta. Realmente, existe nenhuma improbabilidade, na conjuntura de um homem engenhoso [o recente Dr. Nicholas Robinson] de que a serpente era privilegiada com a razão, que é agora, propriedade do homem. E isto considera a circunstância que, sobre nenhuma outra suposição, seria totalmente incompreensível.  
Como foi que Eva não ficou surpresa; sim, chocada e aterrorizada, ao ouvir a serpente falar e raciocinar; a não ser pelo fato de que ela sabia que aquela razão, e discurso, em conseqüência dela, eram propriedades originais da serpente? Por esta razão, sem mostrar qualquer surpresa, Eva imediatamente iniciou uma conversa com ela. "E ela disse à mulher: 'Não comereis de toda a árvore do jardim?'". Veja como ela que era uma mentirosa, desde o inicio, misturou verdade e falsidade juntas! Talvez, de propósito, para que ela pudesse estar mais inclinada a falar, com o objetivo de imputar a Deus a responsabilidade injusta. Conseqüentemente, a mulher disse à serpente: (Gênesis 3:2-3) "Nós poderemos comer do fruto das árvores do jardim: Mas da árvore, no meio do jardim, Deus disse:'Você não deve comer dela, nem deverá tocá-la, a fim de que não morra'". Assim sendo, ela parece ter sido isenta da culpa. Mas, por quanto tempo, ela continuou assim? "E a serpente disse à mulher: 'você certamente morrerá: Porque Deus sabe, que no dia em que dele você comer, seus olhos se abrirão, e você será como Deus, sabendo o bem e o mal'" (Gênesis 3:4-5). Aqui o pecado começa, ou seja, a descrença. 'A mulher estava iludida', diz o Apóstolo. Ela acreditou na mentira: Ela deu mais crédito à palavra do diabo do que à palavra de Deus. A descrença produziu o pecado efetivo: Mas 'o homem', como o Apóstolo observa, 'não foi ludibriado'. Como, então, ele veio a se unir com a transgressão? 'Ela deu ao seu marido, e ele comeu'. Ele pecou com seus olhos abertos. Ele se rebelou contra seu Criador, como é altamente provável, que --

Através de nenhuma razão foi movido,
a não ser afetuosamente dominado
pelo encanto feminino
           
            E, se este foi o caso, não existe absurdo na afirmação daquele grande homem, 'Que Adão pecou no seu coração, antes de pecar exteriormente; antes que ele comesse o fruto proibido';ou seja, através da idolatria interior; por amar a criatura mais do que o Criador.
             
2. Imediatamente a dor se seguiu ao pecado. Quando ele perdeu sua inocência, ele perdeu sua felicidade. Ele temeu dolorosamente que Deus, no amor de quem sua felicidade suprema consistiu anteriormente. 'Ele disse': Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e tive medo'. (Gênesis 3:10). Ele fugiu Dele que era, até, então, seu desejo, e glória e alegria. Ele 'se escondeu da presente do Senhor Deus, em meio às árvores do jardim'. Escondeu-se! Do que, dos olhos que tudo vê? Dos olhos que, com um relance, penetra o céu e terra? Veja como seu entendimento foi igualmente enfraquecido! Que insensatez espantosa foi esta! Tal como alguém poderia imaginar muito poucos, mesmo de sua posteridade, teriam caído. Tão mortalmente foi seu 'tolo coração enegrecido', pelo pecado, culpa, tristeza, e medo. Sua inocência foi perdida, e, ao mesmo tempo, sua felicidade, e sua sabedoria. Aqui está a resposta clara e inteligível da questão, 'Como o mal entrou para o mundo?' .

3. Alguém não pode deixar de observar, através de toda esta narrativa, a inexprimível ternura e indulgência do Todo Poderoso Criador, de quem eles tinham se revoltado; o Soberano, contra quem eles tinham se rebelado. "E o Senhor Deus chamou Adão, e disse a ele: 'Onde estavas?'" – assim, graciosamente, pedindo para retornar aquele que, do contrário, teria fugido eternamente de Deus. "E Adão respondeu: 'Eu ouvi tua voz no jardim, e tive temor, porque eu estava nu'". Ainda aqui não existe reconhecimento de sua falta; nenhuma humilhação por ela. Mas com que ternura espantosa Deus o conduziu a fazer aquele reconhecimento! "E Deus disse: 'Quem contou a ti, que tu estavas nu? Como vieste a fazer esta descoberta? Comeste tu da árvore de que te ordenei que não comesses?'". 'E o homem disse', ainda sem se sentir humilhado; sim, jogando a culpa indiretamente sobre o próprio Deus: 'A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e eu comi'. "E o Senhor Deus, ainda com o objetivo de trazê-lo ao arrependimento, disse a mulher: 'O que foi que tu fizeste?' (Gênesis 3:13). E a mulher respondeu, cruamente declarando a coisa como ela era: 'A serpente me enganou, e eu comi'". "Ao que o Senhor Deus disse à serpente", para testificar Sua completa abominação ao pecado, através de um monumento permanente de seu desprazer, ao punir a criatura que fora meramente o instrumento dele: 'Porquanto fizeste isto, maldita serás mais que toda a fera, e mais que todos os animais do campo; sobre o teu ventre andarás, e pó, tu comerás todos os dias da tua vida – E eu colocarei inimizade entre ti e a mulher; e entre tua semente a semente da mulher: E esta te ferirá a cabeça, e tu feriras seu calcanhar'. Assim, no meio do julgamento Deus conservou a misericórdia, desde o começo do mundo; ligando a grande promessa da salvação com a mesma sentença da condenação!

4. "E, junto à mulher, Ele disse: 'Multiplicarei grandemente teu sofrimento', ou em 'tua concepção: Com sofrimento', ou dor, 'tu darás à luz filhos'; -- sim, acima de qualquer outra criatura debaixo do céu; cuja maldição original, nós vemos que está vinculada à sua última posteridade. 'E o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará'". Parece que a última parte desta sentença é explicativa da primeira. Houve, até agora, alguma outra inferioridade da mulher para com o homem, do que aquela que nós podemos conceber de um anjo para outro? "E Deus disse a Adão: 'Porque deste ouvidos à voz de tua mulher, e comeste da árvore de que te ordenei, dizendo: Não comerás dela, maldita é a terra por causa de ti – Espinhos e cardos ela produzirá para ti'": -- Produções inúteis; sim, danosas; considerando que nada, planejado, para causar dano ou dor, teve, a princípio, algum lugar na criação. 'E tu irás comer da erva do campo': -- Grosseira e vil, comparada às frutas deliciosas do paraíso! 'No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto, tu és pó, e em pó te tornarás'

II


1. Vamos agora, em Segundo Lugar, pesar essas palavras solenes, de uma maneira mais particular. 'Tu és pó': Mas quão terrivelmente e maravilhosamente forjado, em inumeráveis fibras, nervos, membranas, músculos, artérias, veias, vasos de vários tipos! E quão espantosamente este pó está ligado com a água; com os fluidos circulantes fechados, diversificados em milhares de maneiras, através de milhares de tubos e filtros! Sim, e quão maravilhosamente o ar está comprimido, em todas as partes, sólidas ou fluídas, da máquina animal; ar não elástico; que faria a máquina em pedaços, mas tão fixado como a água debaixo do pólo! Mas tudo isto não teria proveito, não fosse o fogo etéreo, intimamente misturado com esta terra, ar e água. E todos esses elementos estão misturados, na mais exata proporção; de maneira que, enquanto o corpo está sadio, nenhum deles predomina, em nenhum grau, sobre os demais.

2. Tal era o homem, com respeito à sua parte corpórea, quando ele saiu das mãos de seu Criador. Mas, desde que ele pecou, ele não é apenas pó, mas um pó mortal, corruptível. E, através da triste experiência, nós nos certificamos que este 'corpo corruptível pressiona a sua alma para baixo'. Ele freqüentemente oculta a alma em suas operações, e, na melhor das hipóteses, a serve muito imperfeitamente. Ainda assim, a alma não pode dispensar seus serviços, imperfeitos como eles são: porque um espírito, sem corpo, não pode formar um pensamento, a não ser com a mediação de seus órgãos corpóreos. Por pensar, como muitos supõem, que não se trata da ação de um espírito puro; mas da ação de um espírito conectado a um corpo, e atuando sobre um grupo de padrões materiais. Por conseguinte, ele não pode criar possivelmente música alguma melhor, do que a natureza e estado de seus instrumentos permitem. Por esta razão, toda desordem do corpo, especialmente, das partes mais imediatamente subservientes ao pensamento, situa-se numa barreira quase insuperável, no caminho de seu pensamento justamente. Disto, a máxima recebida em todas as épocas: O homem é errado e ignorante.

''Não apenas ignorante', (isto pertence, mais ou menos, a toda criatura no céu e terra; vendo que ninguém é onisciente; ninguém conhece todas as coisas, salvo o Criador), 'mas o erro está imposto sobre cada filho do homem'. O engano é, assim como a ignorância, inseparável da humanidade, neste nosso presente estado. Todo filho do homem comete milhares de equívocos, e está propenso aos erros da carne, a todo o momento. E um erro de julgamento pode ocasionar um erro na prática; sim, naturalmente conduz a isto. Eu me engano, e possivelmente, não posso evitar confundir o caráter deste ou daquele homem. Eu suponho que ele seja o que ele não é; seja melhor ou pior do que realmente é. Sobre esta suposição errada, eu me comporto de modo errado com ele; ou seja, mais ou menos, afetuosamente do que ele merece. E, pelo engano que é ocasionado, através da deficiência de meus órgãos corpóreos, eu sou naturalmente conduzido a assim proceder. Tal é a condição presente da natureza humana. De uma mente dependente de um corpo mortal. Tal é o estado vinculado aos espíritos humanos, enquanto unidos com a carne e o sangue!

3. 'E ao pó, tu retornarás'. Quão admiravelmente bem, o sábio Criador assegurou a execução de sua sentença sobre toda a descendência de Adão! É verdade que Ele se agradou de fazer uma exceção a regra geral, no mesmo início dos tempos, em favor de um homem eminentemente religioso. Então nós lemos em (Gênesis 5:23-24) 'E foram todos os dias de Enoque trezentos e sessenta e cinco anos. E andou Enoque com Deus; e não apareceu mais, porquanto Deus para si o tomou'; depois de Enoque ter 'caminhado com Deus', trezentos e sessenta e cinco anos, 'ele não se foi; porque Deus o arrebatou': Ele o isentou da sentença passada a toda carne, e o levou vivo ao céu. Muitas décadas depois, Ele se agradou de fazer a segunda exceção; ordenando ao Profeta Elias para ser levado ao céu, em uma carruagem de fogo, -- muito provavelmente, por um  comboio de anjos, assumindo aquela aparência. E não é improvável que Ele viu por bem fazer a terceira exceção, na pessoa de seu amado discípulo. Existe um relato particular do Apóstolo João, na velhice, que nos foi transmitido; mas não temos relato de sua morte, e nem da menor insinuação concernente a ela. Por isso, nós podemos razoavelmente supor que ele não morreu, mas que, depois de ter terminado seu curso, e 'caminhado com Deus', por volta de cem anos, o Senhor o tomou, como a Enoque; não de uma maneira tão declarada e conspícua como Ele fez com o Profeta Elias.

4. Mas deixando essas duas ou três instâncias de lado, quem tem sido capaz, no curso de aproximadamente seis mil anos, de evadir-se da execução dessa sentença, passada para Adão e toda sua posteridade? Mesmo que os homens sejam tão grandes mestres na arte da cura, eles podem prevenir ou curar a decadência gradual da natureza? Todas as suas habilidades grosseiras podem livrá-los da velhice, ou impedir o pó de retornar ao pó? Mais do que isto: quem entre os maiores mestres da medicina tem sido capazes de acrescentar um século à sua própria existência? Sim, ou de prolongar sua vida, algum tempo considerável, além do período comum? Os dias do homem, por volta de três mil anos (desde o tempo de Moisés, pelo menos), têm sido fixados, numa média de setenta anos. Quão poucos existem que alcançam os oitenta anos! Talvez, dificilmente um em quinhentos. Tão pouco proveito tem a capacidade humana contra as determinações de Deus!

5. Deus tem, de fato, providenciado os meios para a execução de seu próprio decreto, nos próprios princípios de nossa natureza. Bem se sabe que o corpo humano, quando ele vem ao mundo, consiste de membranas, perfeitamente finas, que são preenchidas com fluido circulante, para as quais as partes sólidas nutrem uma proporção muito pequena. Dentro dos tubos compostos dessas membranas, a nutrição deve ser continuamente introduzida; do contrário, a vida não pode continuar, mas chega ao fim, tão logo ela começa. E suponha que essa nutrição seja liquida, o que, a medida em que ela flui, através desses canais finos, continuamente os alarga, em todas as suas dimensões; ainda assim, ela contém inumeráveis partículas sólidas, que continuamente se aderem à superfície interior dos vasos, através  dos quais elas fluem; de modo que, na mesma proporção que algum vaso se dilata, ele é endurecido também.

Assim, desde a meninice até a maturidade, o corpo se torna mais firme, tanto quanto mais largo. Aos vinte, vinte e cinco, ou trinta anos, ele alcança a sua medida e firmeza completa. Todas as partes do corpo estão, então, aumentadas, em seu limite total; quanto mais as substâncias da terra se aderem a todos os vasos, mais dão a solidez que eles severamente precisam para os nervos, artérias, veias, músculos, com o objetivo de exercitar suas funções, da maneira mais perfeita. Porque nos vinte, ou trinta anos seguintes, embora mais e mais partículas da terra continuamente se adiram à superfície interior de todos os vasos do corpo, ainda assim, a inflexibilidade causada, por meio disto, é dificilmente observável, e ocasiona pequena inconveniência. Mas, depois de sessenta anos (mais ou menos, de acordo com a constituição natural, e milhares de circunstâncias acidentais) a mudança é facilmente percebida, mesmo na superfície do corpo. As rugas mostram a proporção dos fluídos sendo diminuídos, assim como a secura da pele, através da diminuição de sangue e humores orgânicos, que, antes a umedeciam e mantinham-na lisa e flexível. As extremidades do corpo ficando frias, não apenas, como se elas tivessem sido removidas do centro do movimento, mas como se a menor das veias estivessem entupidas, e não pudessem mais admitir fluído circulante.

Conforme a idade aumenta, cada vez menos, os vasos ficam permeáveis, e capazes de transmitir o fluído vital; exceto nos mais grossos, a maioria dos quais estão alojados dentro do tronco. Na extrema velhice, as próprias artérias, o grande instrumento de circulação, através de contínua oposição a terra, tornam-se duras, como se fossem ossos, até que, tendo perdido o poder de contraírem-se, elas não podem mais propelir o sangue, até mesmo, através de canais largos; em conseqüência do que, a morte naturalmente se segue. Assim, são as sementes da morte, semeadas em nossa própria natureza! Desta forma, desde o primeiro momento, quando surgimos no estágio da vida, estamos viajando em direção a ela: Estamos nos preparando, quer queiramos ou não, para retornarmos ao pó de onde viemos!

6.  Agora vamos fazer um pequeno retrospecto de tudo, já que ele foi entregue com inimitável simplicidade; o que uma pessoa imparcial poderia, mesmo disto, inferir ser a palavra de Deus. Naquele período de duração, que Ele considerou mais apropriado (o que tão somente Ele, cujos olhos viram todas as possibilidades das coisas do Eterno para a eternidade, poderia ser o juiz), o Todo Poderoso, erguendo-se na grandeza de suas forças, decidiu criar o universo. 'No início Ele criou', vindo do nada, 'a matéria dos céus e terra': (Assim, o Sr. Hutchinson observa, as palavras originais propriamente significando): Então, 'o Espírito', ou o fôlego 'do Senhor', ou seja, o ar, 'moveu-se sobre a face das águas'. Aqui estava a terra, água, ar; três dos elementos, ou partes componentes do mundo abaixo. "E Deus disse 'Haja luz, e houve luz'". Através desta palavra onipotente, luz, ou seja, fogo, o quarto elemento, nasceu. Destes, diferentemente modificados, e proporcionados uns com os outros, Ele compôs o todo. 'A terra produziu grama, a erva produziu semente, e a árvore produziu fruto, segundo a sua espécie': e, então, as várias tribos de animais, os habitantes das águas, do ar, e da terra. Mas o próprio pagão poderia observar: "Ainda havia a necessidade de uma criatura de um nível mais elevado, capaz de sabedoria e santidade".

            Assim, 'Deus criou o homem a sua própria imagem; na imagem de Deus, Ele o criou!'. Sinal da repetição enfática. Deus não o fez meramente matéria; um pedaço de argila inconsciente, sem inteligência; mas um espírito, como Si próprio, embora coberto com o veículo material. Como tal, ele foi dotado com entendimento; com a vontade incluindo várias afeições; e com a liberdade, um poder de usá-la, da maneira correta ou errada, de escolher o bem ou o mal. Do contrário, nem seu entendimento, nem sua vontade teria sido de algum propósito, porque ele seria tão incapaz de virtude ou santidade como um tronco de árvore. Adão, em quem toda a humanidade foi, então, contida, livremente preferiu o mal ao bem. Ele escolheu fazer a sua própria vontade, preferivelmente, a vontade de seu Criador. Ele não foi ludibriado',  mas conscientemente e deliberadamente revelou-se contra seu Pai e seu Rei. Naquele momento, ele perdeu a imagem moral de Deus, e, em parte, a natural: Ele começou ímpio, tolo e infeliz. E, 'em Adão todos morreram': Ele designou a toda sua posteridade o erro, culpa, tristeza, medo, dor, enfermidade e morte.

7. Como, realmente,  todas as coisas a nossa volta, mesmo a face do mundo todo, concordam, com este relato! Abram os olhos! Olhem em volta de vocês! Vejam as trevas que podem ser sentidas; vejam a ignorância e o erro; vejam o vício, em milhares de formas; vejam a  consciência da culpa, medo, tristeza, vergonha, remorso, cobrindo a face da terra! Vejam a miséria, a filha do pecado. Vejam, de todos os lados, a enfermidade e a dor; habitantes de todas as nações debaixo do céu; empurrando o pobre, os desamparados filhos dos homens, em todos os tempos, para os portões da morte! Assim, eles têm feito, quase desde o começo do mundo. Assim, eles farão, até a consumação de todas as coisas.

8. Mas o Criador pode menosprezar a obra de suas próprias mãos? Certamente que é impossível! Ele pode, então, providenciar um remédio para todos esses males, vendo que tão somente Ele é capaz disto? Sim, verdadeiramente Ele pode! E um medicamento suficientemente adequado, em todos os sentidos, para a enfermidade. Ele tem cumprido sua palavra: tem permitido 'à semente da mulher, pisotear a cabeça da serpente'. -- 'Deus amou tanto o mundo, que Ele deu seu Unigênito, para que todo aquele que Nele cresse, não perecesse, mas tivesse a vida eterna'. Aqui está um remédio preparado para todas as nossas culpas: Ele 'carregou todos os nossos pecados em seu corpo no madeiro'. E 'se alguém pecou, nós temos um Advogado com o Pai, Jesus Cristo, o justo'. E aqui está o remédio, para todas as nossas enfermidades, toda a corrupção de nossa natureza. Porque Deus também, pela intercessão de seu Filho, nos deu seu Espírito Santo, para nos renovar 'no conhecimento', em sua imagem natural; -- abrindo os olhos de nosso entendimento, e nos iluminando com tal conhecimento, já que é requisito necessário para nosso Deus amável; -- e também em sua imagem moral, ou seja, 'retidão e santidade verdadeira'. E, supondo que isto seja feito, nós entendemos que 'todas as coisas' irão 'trabalhar juntas para nosso bem'. Nós sabemos, através de experiência, bem sucedida, que todas as maldades inatas mudam sua natureza, e voltam-se para o bem; que a tristeza, enfermidade, dor, todas provarão ser medicamentos, para curar nossa enfermidade espiritual. Todas serão para nosso proveito; todas irão tender para nossa vantagem inexprimível, fazendo com que sejamos mais amplamente 'parceiros de Sua santidade', enquanto permanecermos na terra; acrescentando tantas estrelas para aquela coroa que está reservada no céu para nós.

9. Observem, então, ambas a justiça e misericórdia de Deus! – sua justiça em punir o pecado; o pecado dele, em quem estamos todos contidos; sobre Adão e toda sua posteridade; -- e sua misericórdia, em providenciar um medicamento universal para um mal universal; em indicar o Segundo Adão para morrer por todos que tinham morrido no primeiro; 'como em Adão todos morreram, então, em Jesus Cristo todos' deveriam 'viver'; 'como, por meio da ofensa de um homem, o julgamento trouxe condenação a todos os homens; então, por meio da retidão de um, o dom livre' viria 'sobre todos na justificação da vida' -- 'justificação da vida', como estando ligada com o novo nascimento, o início da vida espiritual, que nos conduz, através da vida de santidade, para a vida eterna; para a glória.

10. E deve ser particularmente observado que, 'onde o pecado é abundante, a graça é muito mais'. Porque, assim como é para a condenação, assim é para o dom livre; mas nós podemos obter infinitamente mais, do que temos perdido. Nós podemos agora alcançar os mais altos graus de santidade, e os mais altos graus de glória, do que teria sido possível alcançarmos, se Adão não tivesse pecado, e se o Filho de Deus não tivesse morrido: Conseqüentemente, se aquele exemplo espantoso do amor de Deus para com o homem, que tem, em todas as épocas, despertado a mais sublime alegria, amor, e gratidão de Seus filhos, nunca tivesse existido, nós teríamos amado o Deus Criador, o Deus Preservador, o Deus Governador; mas não teria havido lugar para o Deus Redentor. Isto não teria existido. A mais sublime glória e alegria dos santos da terra, e do céu, Cristo crucificado, teria sido ausente.

Nós não poderíamos, então, ter louvado a Ele que, pensando que nenhum ladrão fosse igual com Deus, ainda assim, esvaziou a si mesmo, tomou sobre si a forma de um servo, e foi obediente para a morte, mesmo a morte na cruz! Este é agora o mais nobre motivo para todos os filhos de Deus na terra; sim, nós não necessitamos de escrúpulos para afirmarmos que, até mesmo, dos anjos e arcanjos, e toda a companhia do céu.

'Aleluia', eles clamam, 'ao Rei do céu, o grande e eterno Eu Sou; ao Cordeiro que foi sacrificado, e reviveu. Aleluia a Deus e ao Cordeiro!'

 [Editado por George Lyons da Northwest Nazarene College (Nampa, ID), para a Wesley Center for Applied Theology.]

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