MINISTÉRIO
PALAVRA VIVA
o livro dos
apóstolos
PAULO
sumário
Introdução
I. a igreja em jerusalém
1. A comissão dos Apóstolos
2. A Fundação da Igreja de Jerusalém.
3. A Descida do Espírito Santo (1:12-2.13)
4. A conversão de Saulo de Tarso.
5. A Chamada de Paulo
ii – as missões do apóstolo paulo
1. A Primeira Viagem Missionária
2. A segunda viagem missionária
3. A terceira viagem missionária
iii – as prisões do apóstolo paulo
1. O Resumo dos últimos capítulos de “Atos dos Apóstolos”
2. A Prisão de Paulo em Jerusalém (Atos 21, 22 e 23)
3. A Prisão de Paulo em Cesaréia (Atos 24, 25 e 26)
4. A prisão de Paulo em Roma
ASPECTOS - Evangélicos - Políticos - Teológicos – Apologéticos – Geográficos.
conclusão
*
* *
*
Estudo doutrinário atualizado e revisado para
seguimento de obreiros
na obra do
Evangelho do Senhor Jesus Cristo.
Pr. Sidney de Freitas Adrião
o livro de atos dos
apóstolos
Introdução
1.
Título do livro: O
título do livro de “Atos dos Apóstolos” tal como o conhecemos não fazia parte do livro original
mas sim foi lhe dado depois do ano 200 da era cristã. O Evangelho de Lucas e Os Atos, são
dois volumes de uma só obra. Isso fica claro comparando Lc 1.1-4 com At
1.1-4.
2.
Tema do livro: O livro
dos Atos contém a história do estabelecimento e desenvolvimento da igreja cristã,
e da proclamação do evangelho ao mundo então conhecido na época (At 1.8).
3.
Palavras chaves de Atos:
“Ascensão”,
“descida” e “expansão”.
4.
Escritor do
livro:
a)
Pistas para descobrir o escritor: Considerando
a dedicatória do livro a Teófilo (At 1:1; comparemos com Lc 1:3), a referência
a um tratado anterior (1:1), o seu estilo, o fato de o autor ter sido
companheiro de Paulo, o que fica muito claro por estarem certas partes do livro
escritas na primeira pessoa do plural (“nós”), e ter acompanhado Paulo à Roma
(At 27:1; comparemos com Cl 4:14; Fm 24; 2 Tm 4:11), chegamos a conclusão que o
livro de Atos foi escrito
por Lucas. A impressão que se dá é que ele teria usado o diário de viagem como
fonte de material.
b)
Quem foi Lucas? Pouco se sabe
dele. Seu nome é mencionado só três vezes no NT . Paulo chama-o de “médico
amado”. O único escritor da Bíblia que não era judeu. A tradição e os estudiosos
dizem que Lucas era homem de cultura e erudição científica, versado nos
clássicos hebraicos e gregos. É possível que tivesse estudado medicina na
Universidade de Atenas.
c)
Relação de Lucas com Paulo: Ficou
em Filipos até à volta de Paulo, seis ou sete anos depois, At 16:40
(“dirigiram-se”), quando tornou a se juntar a ele, 20:6 (“navegamos”) e com ele
ficou até o fim, possivelmente até a morte de Paulo em Roma.
5.
Para quem Atos
foi escrito: Foi escrito
particularmente a Teófilo, um nobre cristão, mas de um modo geral a toda a
igreja.
6.
Propósitos do
livro de Atos:
a)
Propósito Informativo/ Evangelístico:
Lucas queria informar ao excelentíssimo Teófilo sobre como o evangelho se
propagou desde de Jerusalém a Roma. Teófilo já havia recebido alguma informação
a respeito da fé cristã, e foi para lhe fornecer uma explicação mais precisa de
sua fidedignidade que Lucas, em primeiro lugar, escreveu a história inicial do
Cristianismo, começando do nascimento de João Batista e de Jesus até o fim dos
dois anos de prisão de prisão de Paulo em Roma (cerca de 61 a. D.). Atos trata principalmente dos atos de Pedro e de Paulo, mais
deste último.
b- Propósito Apologético: O livro mostra principalmente como o evangelho se estendeu
aos não judeus (os gentios). O A. T. é a história das relações de Deus, desde
os tempos antigos, com a nação judaica, que tinha a função de abençoar as
outras nações. É no livro de Atos que
a família de Deus deixa de ser uma questão nacional e passa a ter um sentido
universal (intenção divina em At 2:7-11). Assim, o escritor defende
veementemente que o Cristianismo não é um ramo
herético do judaísmo, mas antes, uma elevação e melhoria do judaísmo, com
raízes profundas no mesmo, mas retendo apenas os elementos nobres e úteis,
ficando rejeitados todos os seus males, especialmente a apostasia para a qual
havia decaído, como também o seu escopo provincial.
c)
Propósito Político: Mostrar aos
líderes romanos que o cristianismo não deveria ser temido e perseguido, como
ameaça ou movimento traiçoeiro ao estado romano; pelo contrário, que era digno
da proteção romana, com permissão de funcionar livremente, tal como o judaísmo
havia obtido de seus conquistadores militares. Por este motivo é que o livro de
Atos apresenta os oficiais romanos como ordinariamente favoráveis aos
movimentos dos missionários cristãos. Embora Lucas houvesse escrito após Paulo
haver sido martirizado, e a perseguição de Roma contra os cristãos já houvesse
começado, ele não ignora e nem põe em perigo o seu propósito apologético
encerrando o seu livro numa atitude negativa, a saber, narrando a execução do
maior advogado do cristianismo às mãos das autoridades romanas. (Ver Atos
18:12-17, onde se expõe a idéia da proteção do cristianismo, pelas autoridades
romanas, tal como o judaísmo já vinha sendo protegido pelas leis do império). Lucas,
portanto, quis mostrar que os levantes e as perturbações de ordem pública que
seguiam na cauda do movimento dos missionários cristãos resultavam das
perseguições efetuadas pelos judeus, e não de qualquer espírito malicioso dos
próprios cristãos. Lucas endereçou a sua dupla obra (Lucas-Atos) a um oficial
romano, de nome Teófilo. Por
conseguinte, dirigiu seu trabalho à aristocracia romana, esperando que se os
argumentos ali contidos fossem recebidos e digeridos, o novel movimento cristão
viesse a ser protegido, e não perseguido. Todavia, o seu grande alvo, do ponto
de vista humano, fracassou, porque sobrevieram severas e prolongadas
perseguições, desde muito tempo antes o evangelho de Lucas e do livro de Atos
terem sido escritos e postos em circulação.
d)
Propósito Jurídico: Alguns
estudiosos supõem que um objetivo do Médico amado seria o de usar o relato de Atos dos Apóstolos para ser lido como
sumário de argumento para a defesa, no julgamento de seu amigo, o Apóstolo
Paulo.
i. a igreja em jerusalém
1. A comissão dos Apóstolos
Entende-se por comissão o ato de cometer;
encarregar; também significa encargo,
incumbência. Os missiólogos
chamam a missão dada por Jesus aos seus primeiros discípulos de “Grande
Comissão”. Ele ordenou aos onze homens, com os quais mais dividira seu
ministério terreno, que fossem ao mundo inteiro e fizessem discípulos em todas
as nações, Ele lhes disse que ensinassem a esses novos discípulos tudo que haviam
aprendido d’Ele (Mateus 28:18-20). Mais tarde, o apóstolo Paulo deu as mesmas
instruções a Timóteo: "E o que de minha parte ouviste, através de muitas
testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir
a outros" (2 Timóteo 2:2). Mas, somente em nossas próprias forças não
poderemos cumprir nossa comissão. Por isso, o Senhor nos deus uma capacitação
além da natural: “Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e
ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e
até os confins da terra”.
Mas
podemos questionar: Qual o coração da Grande Comissão? Infelizmente, não
aparece na Versão Corrigida, que traduz assim o começo do versículo 19:
“Portanto, ide e ensinai”. Na Atualizada, podemos descobrir o coração da Grande
Comissão, identificando os imperativos (tempos verbais que expressam ordem,
determinação) nela: “Ide” e “fazei discípulos”. Assim como nas traduções
inglesas e espanholas, a Versão Atualizada em português traz dois imperativos.
Mas não é assim na linguagem original. No grego, matheteusate ou “fazei discípulos” é o único imperativo nesse
texto. Os outros três verbos nos versículos 19 e 20 são gerúndios, ou seja,
traduzindo literalmente, teríamos, por exemplo, indo, em lugar de ide. Os
três gerúndios - “indo”, “batizando” e “ensinando” - são as três funções
indispensáveis de como fazer discípulos.
Assim, uma vez que esses versículos não são a Grande Sugestão, mas, sim, a Grande Comissão, o discipulado é imprescindível
na vida da igreja e na vida de cada cristão. Para David Kornfield, hoje, infelizmente,
a Grande Comissão muitas vezes passa a ser a Grande Omissão. E teremos de prestar contas a Jesus a esse respeito.
Essa
Comissão de Mateus 28.18-20 e
paralelamente em Atos 1:8 é grande por, pelo menos, por cinco razões:
a)
É Grande em
sua Autoridade. Das
dezenas ou centenas de mandamentos de Jesus, este é o único em que Jesus se veste de
toda a autoridade do Universo. Ele se coloca como Rei dos reis e Senhor dos
senhores. Na época bíblica, um súdito que ignorasse ou negligenciasse um
mandato declarado com toda a autoridade real arriscava a própria vida. É com
essa autoridade que fazemos a obra do Senhor (At 1:8).
b)
É Grande em seu Efeito Multiplicador.
É assim que o reino de Deus pode explodir! Até então, havia só um discipulador
multiplicando-se em outros - Jesus Cristo. Agora vem a Comissão para começar um
movimento multiplicador, contra o qual nem as portas do inferno prevalecerão.
Pouco depois, os discipuladores não eram só 11, mas 120. Um pouco mais depois
não eram só 120, mas milhares. De pouco em pouco!
c) É Grande por sua Extensão
Geográfica. Estende-se a
todas as nações. Várias vezes o próprio Jesus limitou seu ministério e ordenou
que os apóstolos também limitassem seus ministérios aos judeus. Aqui, ele abre
o leque e abraça todo o mundo. na Comissão de fazer discípulos em todas as
nações, encontramos o coração de missões mundiais. Deus não admitiu que Sua
igreja entrasse em um ostracismo, vivendo só para si, e encapsulada em um único
ponto geográfico. Ele quer, na verdade, que Seu povo se expanda
territorialmente e anuncie o evangelho a toda criatura, tanto é que esse foi o objetivo da
perseguição de Atos 8: 1-4. A ordem que aparece em Atos
1:8 não é cronológica, ou seja, Cristo não falou para evangelizar primeiro
Jerusalém, segundo Judéia, terceiro
Samaria e por último os confins da Terra. Essa interpretação é errada,
perigosa, e fora da vontade do Senhor. O próprio texto de Atos 1:8 deixa claro
que Jesus determinou que a obra da Sua igreja na Terra deveria ser desenvolvida
simultaneamente nas três dimensões que Ele deseja que o Evangelho seja pregado.
Isso fica claro nas expressões: “tanto em”; “como em”; e “até os”.
d) É Grande por sua Extensão a todos os aspectos da
vida. Jesus nos chama a ensinar outros
a guardarem tudo o que Ele ensinou. Esse mandato inclui toda a humanidade e,
mais do que isso, implica não apenas o ensino, mas a prática desses
mandamentos. No discipulado, o ensino sempre tem por fim a prática. Ou seja, o
ensino que não leva à pratica não é discipulado.
e) É Grande por sua Extensão no Tempo. Estende-se até a consumação do século, até a volta de
Cristo. Cada pastor e igreja que se envolve no discipulado conforme o exemplo
de Jesus constrói os alicerces para um movimento que fluirá de sua igreja a
todas as nações, até a consumação dos séculos.
2. A Fundação da Igreja de Jerusalém:
a) Na festa de Pentecostes, em 30 ou 33 d.C, deu-se o aniversário da Igreja. 50 dias depois da crucifixão de Jesus. 10 dias após sua Ascensão. Pensa-se que esse Pentecostes caiu no primeiro dia da semana. A festa de Pentecostes era também chamada festa das Primícias da colheita eram por essa ocasião apresentadas a Deus. Outrossim, comemorava a promulgação da Lei no Sinai. Apropriava-se, pois, para ser o dia da promulgação do Evangelho e da recepção das primícias da colheita mundial do mesmo Evangelho. Jesus, em Jo 16:17-24, tinha falado da inauguração da época do Espírito Santo. E agora, está sendo de fato inaugurada, numa poderosa manifestação milagrosa do Espírito Santo, com o som como de um vento impetuoso, e com línguas como de fogo pousando sobre cada um dos Apóstolos, esta feita para representantes do mundo inteiro, a judeus e a prosélitos ao judaísmo reunidos em Jerusalém para celebrar o Pentecostes, vindo de todas as terras do mundo que então se conheciam (mencionando-se 15 nações, 2:9-11) – e os Apóstolos da Galiléia falavam para eles nas suas próprias línguas.
b) O Sermão de Pedro (2:14-16). O espetáculo espantoso de Apóstolos falando, sob a influência das línguas de fogo, nas línguas de todas as nações ali representadas. Isto, segundo a explicação de Pedro, vv. 15-21, era o cumprimento da Profecia registrada em Jl 2:28-32. Pode ser o que aconteceu naquele dia não foi o cumprimento total e final daquela profecia, e que aquilo seria o começo apenas, de uma era grandiosa e notável que foi iniciada; a profecia pode se aplicada também, ao fim desta era.
c) O Cumprimento das Profecias. Nota-se as declarações repetidas que o que acontecia já tinha sido predito: A traição de Judas, 1:16-20; a Crucifixão, 3:18; a Ressurreição, 2:25-28; a Ascensão de Jesus, 2:33-35; a vinda do Espírito Santo, 2:17. "Todos os profetas", 3:18-24.
3. A Descida do Espírito Santo (1:12-2.13)
O rei Davi planejou a edificação do templo
e reuniu os materiais necessários. Mas foi Salomão, seu sucessor, quem o erigiu
(1 Cr 29: 1,2). Jesus igualmente planejou a Igreja durante seu ministério
terreno (Mt 16:18; 18:17). Preparou os materiais humanos, porém deixou ao seu
sucessor e representante, o Espírito Santo, o trabalho de erigi-la. Foi no dia
de Pentecoste que esse templo espiritual foi construído e cheio da glória do
Senhor (cf. Êx 40:34,35; 1 Rs 8:10,11; Ef 2:20). O dia de Pentecoste era a inauguração
da Igreja, e o cenáculo, o local dessa comemoração.
a) O Dia de
Pentecostes
"E, cumprindo-se o dia de
Pentecostes…" O nome "Pentecoste" (derivado da palavra grega
"cinqüenta") era dado a uma festa religiosa do Antigo Testamento. A
festa era assim denominada por ser realizada 50 dias após a Páscoa (ver Lv
23:15-21). Observe sua posição no calendário das festas. Em primeiro lugar
festejava-se a Páscoa. Nela se comemorava a libertação de Israel no Egito.
Celebravam a noite em que o anjo da morte alcançou os primogênitos egípcios,
enquanto o povo de Deus comia o cordeiro em casas marcadas com sangue. Esta
festa tipifica a morte de Cristo, o Cordeiro de Deus, cujo sangue nos protege
do juízo divino. No sábado, após a noite de Páscoa, os sacerdotes colhiam o
molho da cevada, previamente selecionado. Eram as primícias da colheita, que
deviam ser oferecidas ao Senhor. Cumprido isto, o restante da colheita podia
ser ceifado. A festa tipifica Cristo, "as primícias dos que dormem"
(1 Co 15:20). O Senhor foi o primeiro ceifado dos campos da morte para subir ao
Pai e nunca mais morrer. Sendo as primícias, é a garantia de que todos quantos
nele crêem seguí-lo-ão pela ressurreição, entrando na vida eterna.
Quarenta e nove dias eram contados após o
oferecimento do molho movido diante do Senhor. E no qüinquagésimo dia – o
Pentecoste – eram movidos diante de Deus dos pães. Os primeiros feitos da ceifa
de trigo. Não se podia preparar e comer nenhum pão antes de oferecer os dois
primeiros a Deus. Isto mostrava que se aceitava sua soberania sobre O mundo.
Depois, outros pães podiam ser assados e comidos. O significado típico é que os
120 discípulos no cenáculo eram as primícias da igreja cristã, oferecidas
diante do Senhor por meio do Espírito santo, 50 dias após a ressurreição de
Cristo. Era a primeira das inúmeras igrejas estabelecidas durante os últimos 19
séculos.
O Pentecoste foi a evidência da
glorificação de Cristo. Para Myer Pearlman, a descida do Espírito era como um
"telegrama" sobrenatural, informando a chegada de Cristo à mão
direita de Deus. Também testemunhava que o sacrifício de Cristo fora aceito no
Céu. Havia chegado a hora de proclamar sua obra consumada. O Pentecoste era a
habilitação do Espírito no meio da Igreja. Após a organização de Israel, no Sinai,
o Senhor veio morar no seu meio, sendo sua presença localizada no Tabernáculo.
No dia de Pentecoste, o Espírito Santo veio habitar na Igreja, a fim de
administrar, dali, os assuntos de Cristo.
b) O Falar em Línguas
Apareceu em seguida a realidade da qual o
vento é símbolo: "E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a
falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que
falassem". O que produz esta manifestação? O impacto do Espírito de Deus
sobre a alma humana. É tão direto e com tanto poder, que a pessoa fica
extasiada, falando de modo sobrenatural. Isto pelo fato de a mente ficar
totalmente controlada pelo Espírito. Para os discípulos, era evidência de
estarem completamente controlados pelo poder do Espírito prometido por Cristo.
Quando a pessoa fala uma língua que nunca aprendeu, pode ter a certeza de que
algum poder sobrenatural assumiu o controle sobre ela. Alguns argumentaram que
a manifestação do falar em línguas limitou-se à época dos apóstolos. Aconteceu
para ajudá-los a estabelecer o Cristianismo, uma novidade naquela época. Não
existe, no entanto, limites à continuidade dessa manifestação no Novo
Testamento.
Mesmo no quarto século depois de Cristo,
Agostinho, o notável teólogo do Cristianismo, escreveu: "Ainda fazemos
como fizeram os apóstolos, quando impuseram as mãos sobre os samaritanos,
invocando sobre eles o Espírito mediante a imposição das mãos. Espera-se por
parte dos convertidos que falem em novas línguas". Ireneu (115-202 d.C.),
notável líder da Igreja, era discípulo de Policarpo, que por sua vez foi
discípulo do apóstolo João. Ireneu escreveu: "Temos em nossas igrejas
muitos irmãos que possuem dons espirituais e que, por meio do Espírito, falam
toda sorte de línguas".
A
Enciclopédia Britânica declara que a
glossalália (o falar em línguas) "ocorreu em reavivamentos cristãos
durante todas as eras: por exemplo, entre os frades mendicantes do século XIII,
entre os jansenistas e os primeiros quaquers, entre os convertidos de Wesley e
Whitefield, entre os protestantes perseguidos de Cevennes, e entre os
irvingistas". Podemos multiplicar as referências, demonstrando que o falar
em línguas, por meios sobrenaturais, tem ocorrido em toda a história da Igreja.
(Nota: O falar em línguas nem sempre é em língua conhecida. Ver 1 Co 14.2).
4. A
conversão de Saulo de Tarso
Conquanto a tivesse precedido um longo
período de "incubação" inconsciente, sem dúvida alguma a conversão de
Paulo foi repentina. Ele não conseguira banir da mente o rosto do mártir
moribundo – "como se fosse rosto de anjo". Nem podia ele esquecer-se
da última oração pungente de Estevão: "Senhor, não lhes imputes este
pecado" (Atos 7:6).
O Espírito Santo, sempre ativo, havia
preparado o palco, no decorrer dos anos, para este grandioso confronto e
capitulação. O raio luminoso cegante encontrou uma vasta quantidade de material
inflamável no coração do jovem perseguidor. O milagre aconteceu em pleno
meio-dia. Paulo viu a Jesus em toda a sua glória e majestade messiânicas. Não
se tratava de mera visão, pois ele classifica o fato como a última aparição do
Salvador a seus discípulos, e o coloca no mesmo nível de suas aparições aos
outros apóstolos. Sua declaração é clara e inequívoca.
E apareceu a Cefas, e, depois, aos doze.
Depois foi visto por mais de quinhentos irmãos de uma só vez, dos quais a
maioria sobrevive até agora, porém alguns já dormem. Depois foi visto por
Tiago, mais tarde por todos os apóstolos, e, afinal, depois de todos, foi visto
também por mim, como por um nascido fora de tempo (I Coríntios 15:5-8).
Não foi um êxtase, mas uma aparição real e
objetiva do Cristo ressurreto e exaltado, vestido de sua humanidade
glorificada. Paulo convenceu-se de imediato de que Cristo não era um impostor.
Quão diferente foi a entrada em Damasco daquela que o inquisidor havia
imaginado! "E, caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia… mas,
levanta-te, e entra na cidade, onde te dirão o que te convém fazer… Então se levantou
Saulo da terra e, abrindo os olhos, nada podia ver. E, guiando-o pela mão,
levaram-no para Damasco" (Atos 9:4-8). Paulo entrou cativo em Damasco,
acorrentado à roda da carruagem de seu Senhor vencedor. Fora tudo estava
escuro, mas dentro tudo era luz.
A rendição de Paulo ao Senhorio de Cristo
foi imediata e absoluta. Desde o momento em que ele reconheceu que Jesus não
era um impostor, mas o Messias dos judeus, ele ficou sabendo que só poderia
haver uma resposta. Toda a história se resume nas suas duas primeiras
perguntas: "Quem és tu, Senhor?" "Que farei, Senhor?" (Atos
22:8,10). A verdadeira conversão sempre resulta em rendição à vontade de Deus,
pois a fé salvadora implica obediência (Romanos 1:5).
Quão surpreendente foi a estratégia
vitoriosa de Deus! C.E. Macartney escreve: "O mais amargo inimigo
tornou-se o maior amigo. A mão que escrevia a acusação dos discípulos de
Cristo, levando-os à presença dos magistrados e para a prisão, agora escrevia
epístolas do amor redentor de Deus. O coração que bateu de júbilo quando
Estêvão caiu sobre as pedras sangrentas, agora se regozijava em açoites e apedrejamentos
por amor de Cristo. Do outrora inimigo, perseguidor, blasfemador proveio a
maior parte do Novo Testamento, as mais nobres declarações de teologia, os mais
doces poemas de amor cristão" (J.O. Sanders, p.28).
5. A Chamada de Paulo
O
chamado de Deus veio a Paulo de forma tão clara e específica que não lhe foi
possível confundi-lo, enquanto jazia deitado no chão cego pela luz celestial.
Ananias também comunicou-lhe a mensagem que havia recebido de Deus: "O
Deus de nossos pais de antemão te escolheu para conheceres a sua vontade, ver o
Justo e ouvir uma voz da sua própria boca, porque terás de ser sua testemunha
diante de todos os homens, das coisas que tens visto e ouvido" (Atos
22:14-15).
Mais
tarde, quando Paulo voltava para Jerusalém, sobreveio-lhe um êxtase, e viu
aquele que lhe falava e que lhe disse: "vai, porque eu te enviarei para
longe aos gentios" (Atos 22:17,18,21). A Ananias, cujo temor bem podemos
compreender, comissionado por Deus para dar as boas-vindas ao notório perseguidor da Igreja
cristã, Deus também indicou a esfera de testemunho para a qual ele havia
chamado Paulo: "Mas o Senhor lhe disse [a Ananias]: Vai, porque este é
para mim um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e
reis, bem como perante os filhos de Israel; pois eu lhe mostrarei quanto
importa sofrer pelo meu nome" (Atos 9:15-16).
Paulo
revelou outra faceta de seu chamado ao se defender perante Agripa: "Ouvi
uma voz que me falava… Levanta-te e firma-te sobre teus pés, porque por isto te
apareci para te constituir ministro e testemunha, tanto das coisas em que me
viste como daquelas pelas quais te aparecerei ainda; livrando-te do povo e dos
gentios, para os quais eu te envio, para lhes abrir os olhos e convertê-los das
trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus" (Atos 26:14-18).
Assim,
desde os primeiros dias de sua vida cristã, Paulo não somente sabia que era um
veículo escolhido por meio de quem Deus comunicaria sua revelação, mas tinha
uma idéia geral do que Deus havia planejado para seu futuro: (a) Seu ministério
o levaria para longe do lar; (b) Ele teria um ministério especial entre os
gentios; (c) Esse ministério lhe traria grande sofrimento. Só aos poucos ele
chegou a compreender que este chamado não era tanto um novo propósito de deus
para sua vida, quanto a culminação do processo preparatório iniciado antes de
seu nascimento.
Assim é hoje. O chamado do dirigente
cristão não é tanto um novo propósito para sua vida quanto a descoberta do
propósito para o qual Deus o trouxe ao mundo. O Senhor havia dito aos seus
discípulos que os postos de liderança no seu Reino dependiam da soberana
nomeação de seu Pai. "Quanto, porém, ao assentar-se à minha direita ou à
minha esquerda… é para aqueles a quem está preparado" (Marcos 10:40).
Paulo reconhecia esta verdade, mas só aos poucos ele chegou a um claro
entendimento do trabalho que Deus tinha para ele.
Só depois que os judeus rejeitaram de forma
consistente sua mensagem é que Paulo se devotou quase que exclusivamente aos
gentios. Sua experiência em Corinto chegou a uma fase decisiva. "Paulo se
entregou totalmente à palavra, testemunhando aos judeus que o Cristo é Jesus.
Opondo-se eles e blasfemando, sacudiu Paulo as vestes e disse-lhes. Sobre a
vossa cabeça o vosso sangue! eu dele estou limpo, e desde agora vou para os
gentios" (Atos 18:5-6).
Alguns
anos após a sua conversão, este chamado inicial foi renovado e confirmado pela
igreja de Antioquia onde ele havia trabalhado por um ano. "E, servindo ele
[os dirigentes] ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me agora
a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado" (Atos 13:2). De
modo que o chamado geral se tornou específico, e eles alegremente partiram,
"enviados pelo Espírito Santo". O primeiro passo no cumprimento da
grande comissão do Senhor e o começo do importante empreendimento missionário
de amplitude mundial havia sido realizado com segurança.
ii – as missões do apóstolo paulo
Sabemos
que o conceito teológico de Missões é tríplice: a igreja tem uma missão de
adorar a Deus em espírito em verdade; tem uma incumbência de edificar a si
própria; e tem a grande comissão de evangelizar o mundo. Como referencial de
obreiro que Paulo foi, atuou nessas três obras. Entretanto, vamos delimitar a
prática missiológica paulina somente às suas heróicas viagens missionárias.
O
ambiente de trabalho missionário do apóstolo Paulo foi o Império Romano.
Inserir mapa do Império Romano
Antes
propriamente de entrarmos em suas viagens, é interessante ter em mente a
cronologia da vida do Apóstolo aos gentios. Vejamos:
5
d.C. Nascimento em Tarso, da Cilícia
20-26 Estudos em Jerusalém
26-32 Estudos em Tarso
32-37 Conversão na estrada de Damasco, Atos 9
37-39 Viagem pela Arábia. Gl. 1
35-43 Prega em Tarso e noutros lugares da Cilícia, Atos 9 e
Gálatas 1.
43-44 Prega com Barnabé em Antioquia, Atos 11
44-45 Viagem a Jerusalém, durante a fome, Atos 11
45-47 Primeira viagem missionária, Atos 13-14
47-49 Reside em Antioquia da Síria, Atos 11
49 Faz-se presente ao concílio de
Jerusalém. Atos 15
49-51 Segunda viagem missionária, Atos 15-18
51-56 Terceira viagem missionária, Atos 18-21
56 Aprisionamento em Jerusalém, Atos 21
56-58 Paulo na Prisão em Cesaréia, Atos 23
58-59 Viagem a Roma, Atos 27
59-61 Confinamento em Roma, Atos 26
61-64 (?)
Viagens à Espanha, Creta, Macedônia, Grécia, não mencionadas em Atos, embora
indicadas em outros documentos como no cânon muratoriano e nas epístolas de
Clemente. Algumas indicações destas viagens existem nas epístolas pastorais.
64-67 Execução em Roma, durante as perseguições movidas por
Nero.
1. A Primeira Viagem Missionária
Em geral, Os Atos relatam três viagens missionárias de Paulo. Essa narrativa
às vezes é mui detalhada, às vezes resumida demais. O principal é o seguinte:
todas as três viagens começam e terminam na comunidade gentio-cristã de
Antioquia e não na comunidade judeu-cristã de Jerusalém (as epístolas confirmam
isso); geralmente Paulo dirigia-se primeiro a seus patrícios mas bem depressa
era obrigado a procurar os pagãos.
a)
Resumo e itinerário
Primeira viagem missionária: Barnabé e Paulo vão aos
gentios, Atos 13:1-14:29. Missão a Chipre, 13:4-12. Missão à Galácia,
13:13-14:28. Missão de Pafos a Perge, 13:13. Missão a Antioquia da Psidia,
13:14-52. Missão a Icônio e Listra, 14:1-18. Missão a Icônio, 14:1-7, Missão a
Listra, 14:8-18. Retorno a Antioquia da Síria, 14:19-28.
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b)
A Missão da Primeira Viagem
Lucas conservou-nos uma preciosa notícia sobre a
organização da comunidade de Antioquia e a liturgia (Atos 13: 1-3).
A primeira etapa da missão foi a
ilha de Chipre, de onde Barnabé era originário. O que interessa a Lucas é o
primeiro contato do apóstolo Paulo com um magistrado romano, Sérgio Paulo,
senador, antigo pretor, muito conhecido por inscrições. Sua família vinha de
Antioquia da Pisídia.
Na narração de Lucas, o nome Paulo
toma dali em diante o lugar de Saulo: não se pode deduzir daí que Saulo tenha
adotado o nome do seu ilustre convertido. Ter um duplo nome era então corrente
nos meios bilíngües, como o da família de Paulo. Junto ao governador, Paulo
teve de enfrentar um mágico de origem judaica, Elimas (At. 13,8). O sucesso das
ciências ocultas era grande na época; o que pode surpreender é que um
judeu as pratique. Segundo os Atos,
Paulo terá outras ocasiões de se confrontar com mágicos. Na sua carta aos Gálatas,
ele classifica as práticas de feitiçaria (pharmakeia)
na categoria das obras da carne, próximas da idolatria (Gl. 5,20).
Nas suas cartas, Paulo não faz
alusão à missão de Chipre, para onde ele não terá ocasião de voltar. Por que
ele abandona a ilha sem a ter visitado toda? Paulo que toma a frente da
expedição em direção à Anatólia através dos desfiladeiros do Tauro, covil de
bandidos. Mais tarde Paulo fará alusão aos perigos corridos na estrada (2Cor
11,26). Primo de Barnabé, o jovem João Marco teve medo da aventura e abandonou
o grupo. Paulo não o perdoou, a princípio.
a) O discurso de antioquia da pisídia
Quando Paulo chegava numa cidade
qualquer, ele começava indo à sinagoga. Lá, ele podia entrar em contato com os
judeus do lugar e os “ tementes a Deus ” , pagãos atraídos para o judaísmo (At
13,26). Como amostra da pregação de Paulo, Lucas nos conservou o discurso de
Antioquia da Pisídia (At 13,14-41). Esta era uma colônia romana, fundada por
Augusto para instalar aí os veteranos da legio
V Gallica. O Sérgio Paulo que se instalou aí devia ser um
dos oficiais superiores desta legião.
O
discurso de Paulo não tem equivalentes nas Cartas, mas é fácil encontrar um
certo número de temas pertencendo à apologética cristã primitiva. Ele se coloca
no contexto litúrgico tradicional: depois da leitura de uma passagem da Lei e
de uma outra, tirada da coletânea dos profetas, os chefes da sinagoga convidam
os visitantes a pronunciar algumas palavras de exortação. Paulo não se fazia de
rogado!
O texto de Lucas tem a marca da retórica da época. Do ponto de vista
das idéias, o discurso contém uma retrospectiva da história de Israel até Davi.
Ainda que dirigido em prioridade aos
judeus, o discurso continha uma ponta universalista: a palavra da salvação vale
para os filhos de Abraão como para todos os que temem a Deus (v.26). Sobretudo,
ele esboçava uma crítica contra a Lei de Moisés, incapaz de trazer a salvação
(v.38). O sucesso junto aos não-judeus apenas aumentou a irritação dos filhos
de Abraão. Para se justificar, Paulo declara: “ É a vós por primeiro que
devia ser dirigida a palavra de Deus ”(v.46). Paulo será fiel a este por
primeiro, como se vê pela declaração de princípio de Rm 1,16: “ O Evangelho é o poder de Deus para a
salvação de todo aquele que crê, do judeu primeiro, e depois do grego”.
Para legitimar a sua passagem para
as nações, Paulo cita então uma passagem dos cantos do Servo, que tem uma
grande importância na apologética cristã primitiva: “Destinei-te a seres luz
das nações, a fim de que a minha salvação esteja presente até a extremidade da
terra” (Is 49.6). Este texto vale em primeiro lugar para Cristo, mas Paulo o
aplicou a si mesmo, como mostra Gl 1.15. Assim, portanto, Paulo, servo de
Cristo, descobre a sua missão ao reler a Escritura.
b) Pregação aos pagãos de Listra e retorno
Nas cidades que Paulo e Barnabé vão atravessar, o mesmo
cenário se reproduz. Como Por exemplo em Icônio (At 14,1-7), a pátria de santa
Tecla segundo os Atos de Paulo (acima, p.16s). Em 2Tm 3.13 também se fala dos
sofrimentos suportados por Paulo em Antioquia, Icônio e Listra. Nesta última
cidade, um incidente tragicômico manifesta bem a credulidade do povo e a
dificuldade para os Apóstolos de fazerem-se compreender por uma população pouco
helenizada. Uma cura provoca o entusiasmo e o povo logo quer oferecer um sacrifício,
como se Barnabé e Paulo fossem Zeus e Hermes em visita.
No caminho de volta, os apóstolos confirmam os discípulos
lembrando-os do sentido cristão da provação: “É necessário que passemos por
muitas tribulações para entrar no Reino de Deus” (At 14,22). Para dirigir as
comunidades, Paulo e Barnabé designaram-lhe anciãos (presbyteroi). Este termo
era tradicional nas comunidades judaicas para designar os responsáveis. Não
surpreende que tenha sido retomado pelos judeu-cristãos: em Jerusalém, a
primeira menção aparece já em At 11,30. Por outro lado, não o encontramos nas
cartas de Paulo, exceto nas epístolas pastorais, redigidas provavelmente por um
discípulo: os anciãos são instituídos por imposição das mãos (1Tm 5,22).
Enquanto Paulo pudesse seguir por si mesmo a vida das congregações, a
instituição dos ministérios podia permanecer na sombra. Isto não impede que
Paulo tivesse a preocupação de apoiar aqueles que haviam aceitado tomar a
direção das comunidades, como em Tessalônica ou em Corinto.
Tendo partido de Antioquia com o
apoio dos fiéis, os missionários voltam para contar “tudo o que Deus realizara
com eles, e, sobretudo como tinha aberto aos pagãos a porta da fé” (At 14,27).
Atmosfera de alegria e de ação de graças, bem à maneira de Lucas! Mas os
obstáculos foram todos afastados?
2. A segunda viagem missionária
a)
Resumo e itinerário
Segunda viagem missionária: Paulo vai à Europa,
16:1-18:17: Galácia e A. Menor, 16:1-10. Timóteo e Paulo, 16:1-5 Missão a
Trôade, 16:6-10. Trabalho na Macedônia, 16:11-17:15. Em Filipos, 16:11-50. Em
Tessalônica, 17:1-9. Em Beréia, 17:10-15. Na Acaia, 17:16-18:17. Esta última
fase inclui Atenas e Corinto.
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b)
A missão da segunda viagem
Segunda viagem (49-52; At 15,36-18,22). P. não demorou
muito em Antioquia, mas visitou com Silas as comunidades cristãs da Síria, da
Cilicia, de Derbe, Listra e Antioquia da Pisídia. Em Listra conheceu Timóteo,
que se tornou um dos colaboradores mais fiéis do apóstolo (15,35-16,5). Daí
surgiu com Silas para a Frígia, a terra dos gálatas, onde foi detido por uma
doença e recebido “como um anjo de Deus”, como o próprio Cristo (Gl 4,13-15).
Depois de atravessar a Míssil chegou em Tróade (16,6-8),
onde se encontrou com um médico, Lucas, que se juntou à sua companhia. No mesmo
lugar teve a visão noturna do Macedônia, clamando por socorro. Seguiu
imediatamente para a Macedônia e via Neápolis para Filipos, onde foi fundada
uma comunidade muito florescente, composta quase exclusivamente de gentios
(16,11-40;1 Ts 2,2), que mostrou grande afeição para com P. (Flp 1,3-8.10-16).
Os magistrados da cidade mandaram prender P. e Silas; mas, durante a noite,
foram soltos por serem cidadãos romanos.
Pela Via Egnatia os missionários continuaram sua viagem,
por Anfípolis e Apolônia, até Tessalônica. Aí P. pregou durante três semanas na
sinagoga e converteu numerosos “tementes a Deus” e alguns judeus, teve também
muitas conversas nas casas particulares (1 Ts 2,11s), sobretudo à noite, porque
de dia exercia a sua profissão (2,7-10). Apesar da oposição de alguns (2,14),
Paulo fundou uma comunidade florescente, composta sobretudo de gentio-cristãos.
De Tessalônica P. e Silas partiram para Beréia, onde numerosos
judeus e gentios da elite foram conquistados para o cristianismo, até que P.,
pelas ameaças dos judeus, foi obrigado a abandonar a cidade. Deixou Silas e Timóteo
em Beréia e viajou sozinho a Atenas (17,1-5); aí Timóteo se ajuntou a P., mas
foi mandado de volta a Macedônia (1 Ts 3,1-6).
Em Atenas
Paulo pregou na sinagoga e no mercado. Alguns ouvintes, entre
os quais havia filósofos epicuristas e estóicos, pensaram que estivesse
anunciado novos deuses; foi convidado para apresentar a sua doutrina no Areópago;
aí Paulo pregou o Deus único. Mas, quando começou a falar sobre o juízo e a ressurreição,
interromperam-no. Alguns gentios apenas deixaram se convencer Dâmaris e
Dionísio.
O Apóstolo aos gentios entristeceu-se profundamente por
esse fracasso (1 Ts 3,3s) e desanimou (cf. 1Cor 2,3). Nesse estado chegou a
Corinto, com o firme propósito de renunciar doravante à eloqüência e sabedoria
humanas, e de só conhecer e pregar o Cristo crucificado (1 Cor 2,2). Em Corinto
esteve durante 18 meses hospedado com Áquilas e Priscila. Nos dias de semana
exercia a sua profissão; nos sábados pregava na sinagoga. Quando Silas e
Timóteo, porém, lhe trouxeram ajuda financeira dos filipenses (2 Cor 11,9; Fp
4,16), dedicou-se ele inteiramente à pregação. Converteu alguns judeus (18,8; 1
Cor 1,14) e muitos pagãos, principalmente das classes mais baixas, sem cultura
(1 Cor 1,26).
Em Corinto, Paulo escreveu 1Tes e 2Tes. Invejosos do seu
sucesso, os judeus o acusaram diante de Galião, provavelmente no princípio de
seu consulado (meados de 52), como propagandista de um “religião ilícita”. Galião,
porém, rejeitou a acusação dos judeus. Em Corinto o apóstolo embarcou-se para a
Síria, junto com Áquilas e Priscila. Deixou seus companheiros em Éfeso, aterrou
em Cesaréia, visitou talvez Jerusalém, e voltou para Antioquia (At 18,18-22).
3. A terceira viagem missionária
a)
Resumo e itinerário
Terceira viagem missionária: Paulo vai à Ásia Menor,
18:18-19:41. Viagem de confirmação das igrejas, 18:18-23, Apolo, 18:24-28.
Paulo em Éfeso, 19:1-41. Retorno à A. Menor, 19:1=12. Paulo e os exorcistas,
19:13-20. Planos de Paulo sobre o futuro, 19:21-22. O levante em Éfeso,
19:23-41.
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b)
A missão da terceira viagem
Terceira viagem (53-58; At 18,23-21,14). Pouco depois
partiu novamente para a Galácia (cf. Gl 4,13), onde reinavam a piedade e a paz
nas comunidades cristãs (1,6; 5,7), atravessou a Frígia, as montanhas do centro
da Ásia Menor e o vale do Meandro, e chegou a Éfeso (At 18,23; 19,1.8.10;
20,31). Aí Priscila e Áquilas já haviam completado a instrução cristã de Apolo,
judeu alexandrino douto e eloqüente que com zelo e sucesso pregara o
cristianismo na sinagoga, e já partira para Corinto (18,24-28; 19,1).
Em Éfeso Paulo conheceu também uma dúzia de discípulos de
João Batista, que ele ganhou para o cristianismo (19,2-7), e pregou durante
três meses na sinagoga. Como a maior parte dos judeus continuava incrédula,
dirigiu-se aos pagãos, pregando no auditório de um tal de Tirano, provavelmente
um retor grego. Lucas narra detalhadamente alguns episódios das atividades de
P. em Éfeso; curas e expulsão de demônios, a destruição de um grande número de
livros de magia (19,11-19) e o tumulto que, depois de três anos, ocasionou o
fim da estadia de P. naquela cidade (19,23-20,1). At 19,20.26 refere-se em
termos vagos à propagação do cristianismo “por toda a Ásia”. De fato, abrira-se
para P. em Éfeso “uma porta larga e poderosa” (1Cor 16,9); quem a abriu foi ele
mesmo e os seus colaboradores (Timóteo, Tito, Erasto, Gaio, Aristarco e
Epafras: At 19,22,29; 2Cor 12,18; Cl 1,7); e fundaram-se comunidades cristãs em
Colossos, Laodicéia, Hierápolis (Cl 1,7; 2.1; 4,12s), Tróade (At 20,5-12; 2Cor
2.12) e mui provavelmente também em Esmirna, Tiatira, Sardes e Filadélfia (Ap
1:11).
Em éfeso
Paulo sofreu muitas e duras provações: perseguições da parte dos judeus (20:19;
cf. 21:27), uma determinada tribulação que “acima de suas forças” o oprimiu, a
ponto de ele “perder a esperança de conservar a vida” (2Cor 1:8), uma doença ou
perigo mortal (cf. 2Cor 1:9s; 11:23), uma luta contra as feras (1Cor 15:32),
seja em sentido literal, seja em sentido metafórico, de uma luta contra homens
maus e violentos; afinal, em Rm 16:4 Paulo fala num perigo mortal, do qual foi
salvo por Priscila e Áquilas; esse acontecimento desconhecido deve-se localizar
provavelmente em Éfeso.
Além disso Paulo andava muito preocupado com algumas
comunidades cristãs. Os gálatas quase deixaram afastar-se dele pelos
judaizantes; escreveu-lhes Gálatas. Na comunidade de Corinto infiltraram-se
graves abusos morais. Paulo reagiu numa carta que se perdeu (1Cor 5:9), e
mandou Timóteo e Erasto a Corinto (At 19:22; 1Cor 4:17).
Depois, vieram de Corinto alguns cristãos com uma carta
da comunidade, na qual se propunham a P. diversas perguntas. A essa carta P.
respondeu com 1 Cor, provavelmente em 55. Entretanto, chegaram a Corinto alguns
judeu-cristãos que minaram a autoridade de Paulo. Esse resolveu então ir
pessoalmente a Corinto (2Cor 2:1; 12:14; 13:1s). Esta “visita intermediária”
efetuou-se em tristeza, pois Paulo não conseguiu quebrar a desconfiança dos
coríntios, e foi até ofendido por um cristão (2Cor 2:1.5; 7:12; cf. 12:21).
Demorou pouco, e voltou a Éfeso, de onde dirigiu “com
muitas lágrimas” uma terceira carta aos coríntios (2Cor 2:4,9; 7:8,12). Tito
foi portador dessa carta, que não foi guardada. Nela Paulo exigia desagravo e a
submissão da comunidade (2Cor 2:9).
Enquanto aguardava o resultado da carta e da missão de
Tito, Paulo foi obrigado a deixar Éfeso. Viajou para Tróade (20:1; 2Cor 2:13),
onde esperava encontrar-se com Tito. Quando esse demorava, embarcou para Macedônia.
Aí encontrou-se com Tito (provavelmente em Filipos) e ouviu, com muita alegria,
que os coríntios se submetiam.
Da Macedônia escreveu-lhes 2Cor (em 57). Depois de uma
visita às comunidades da Macedônia e, talvez, depois de uma viagem pela Ilíria
(Rm 15:19), Paulo cumpriu a promessa já antiga de visitar Corinto (1Cor 16:5),
onde ficou três meses (At 20:3). Em Corinto P. escreveu Rm (fins de 57 ou princípios
de 58), para preparar uma visita há muito planejada (At 29:21).
Para terminar essa viagem, Paulo queria viajar por mar a
Síria, junto com os representantes das comunidades que haviam arrecadado
dinheiro para os cristãos, mas, por causa de um atentado contra a sua vida,
tramado pelos judeus, viajou por terra. Em Filipos, Lucas ajuntou-se a ele; em
Tróade esperavam-no os companheiros de viagem. Em Tróade tomaram o navio para
Mileto, onde P. mandou chamar os anciãos de Éfeso, para se despedir; pressentia
que nunca mais os veria (20:1-38). Depois navegaram até Tiro, onde profetas
tentaram convencer P. que não fosse a Jerusalém. P., porém, continuou sua
viagem até Ptolemaide e daí por terra até Cesaréia, onde durante vários dias
foi hóspede de Filipe, um dos Sete (At 6:5). Um profeta da Judéia, Ágabo,
predisse que em Jerusalém esperavam-no algemas e prisão, mas P. não se deixou
reter (21:1-16).
iii – as prisões do apóstolo paulo
5. O Resumo dos últimos capítulos de “Atos dos Apóstolos”
·
Visita final
de Paulo à Macedônia e à Acaia, 20:1-4.
·
Paulo vai a
Jerusalém, 20:1-6. De Filipos a Mileto, 20:5-16. Defesa de Paulo ante os anciãos de Éfeso, 20:17-38. De Mileto
ante a Cesaréia, 27:1-14. Paulo com a
igreja em Jerusalém, 21:15-26.
·
Paulo,
prisioneiro em Roma, 21:27-28:31.
a.
Detenção e
defesa, 21:27-22:29.
b.
Perante o
sinédrio, 22:30-23:11.
c.
Transferência
para Cesaréia, 23:12-35.
d.
Em Cesaréia,
24:1-26:32. Paulo e Félix, 24:1-27. Paulo e Festo, 25:1-27. Defesa de Paulo
perante Agripa, 26:1-32.
e.
Viagem a Roma,
27:1-28:16.
f.
Paulo em Roma,
28:17-31.
6. A Prisão de Paulo em Jerusalém (Atos 21, 22 e 23)
a)
O objetivo da viagem a Jerusalém (21:1-16)
Entregar a oferta proveniente das igrejas gentílicas para
os crentes pobres de Jerusalém. Foi uma grande oferta. Paulo levou um ano a
arrecadá-la, 2 Co 8:10. Todavia, foi avisado muitas vezes, ao passar pelas
cidades da Ásia, que essa viagem resultaria em prisão, 20:23. Em Tiro, 21:4, e
em Cesaréia, 21:11, o aviso foi repetido com ênfase especial. De cada vez é o
Espírito quem adverte. Até Lucas fez coro na rogativa, 21:12; Mas estava
arraigado, definitivamente, no espírito de Paulo que aquela era a vontade de
Deus, mesmo que significasse sua morte, 13:14. Por que esses avisos da parte de
Deus? Podia dar-se o caso de Paulo estar enganado e de Deus estar procurando fazê-lo
ciente disso? Ou seria que Deus o estava provando? Ou o preparando? De qualquer
modo, Paulo estava determinado a fazer a viagem. Uma coisa é que ele a
prometera anos antes, Gl 2:10. Considerava aquilo o meio mais prático de
demonstrar a unidade da igreja. Levara sua vida a ensinar aos gentios de que
podiam ser cristãos sem se tornarem prosélitos dos judeus, razão por que muitos
dos seus irmãos judeus o odiavam rancorosamente. Agora, desejava coroar esse
trabalho com uma demonstração genuína e proveitosa de fraternidade cristã da
parte dos seus convertidos gentios, como último e duradouro sinal de amor
fraternal entre judeus e gentios. Vista sob este aspecto, esta visita de Paulo
a Jerusalém é um dos eventos históricos mais importantes do N.T. Possivelmente,
também, ele nunca podia esquecer a agonia dos crentes judeus, homens e
mulheres, quando os lançava em prisão, anos antes, At 8:3, e estava há muito
tempo resolvido, tanto quanto estivesse em suas forças, a compensar a Igreja
Judaica pelos sofrimentos pelos quais a fizera passar.
b) Paulo em Jerusalém
Chegou ali mais ou menos em junho, 59 d.C., 20:16. Foi a
quinta visita que se registra, depois da sua conversão. No decurso deste
período, tinha ganho vastas multidões de gentios para a fé cristã, e por causa
disto era odiado pelos judeus descrentes.
Depois de ter passado quase uma semana em Jerusalém,
cumprindo seus votos no Templo, certos judeus o reconheceram. Começaram a
gritar, e dentro de um instante, a turba estava por cima de Paulo como uma
matilha de cães. Os soldados romanos apareceram em cena em tempo para salvá-lo
de ser morto às pancadas.
Na escada do castelo romano, o mesmo onde Pilatos
condenara Jesus à morte 28 anos antes dele, Paulo, com permissão do comandante,
fez um discurso à turba, contanto como Cristo lhe aparecera no caminho para
Damasco. Escutaram até que mencionou a palavra “gentios”, e então a turba se
enfureceu contra ele.
No dia seguinte, os oficiais romanos trouxeram Paulo
perante o Sinédrio, para descobrir o que os judeus tinham contra ele. Foi o
mesmo concílio que entregou Cristo para ser crucificado; o mesmo Concílio do
qual Paulo fora membro; o mesmo Concílio que apedrejara Estêvão, e que
repetidos esforços fizera para esmagar a Igreja. Paulo correu perigo de ser
espedaçado ali, e os soldados o retiraram dali, levando-o de volta ao castelo.
Na noite seguinte, lá no castelo, o Senhor Se revelou a
Paulo, assegurando-lhe que protegeria seu caminho até Roma, 1:13. Em Éfeso, foi
combinado que Paulo iria a Roma depois desta visita a Jerusalém, 19:21, mas
depois, Paulo nem teria certeza de sair vivo de Jerusalém, Rm 15:31,32. Mas
agora, Paulo estava com absoluta certeza,
pois o próprio Deus prometera que faria a viagem.
No dia seguinte, os judeus enredaram outra cilada contra
Paulo. Fervia a fúria popular. Tornou-se necessário preparar uma escolha
excepcional, de 70 cavaleiros, 200 soldados, e 200 lanceiros para tirar Paulo
de Jerusalém, e mesmo assim, na escuridão da noite.
7. A Prisão de Paulo em Cesaréia (Atos 24, 25 e 26)
Essa prisão ocorreu no verão de 59 ao outono de 61
d.C.
Cesaréia fora o lugar onde 20 anos antes Pedro recebera
na igreja o primeiro gentio, Cornélio, oficial do exército romano.
Possivelmente, foi esta a razão pela qual Félix conhecia alguma coisa a
respeito do “caminho”, 24:22.
Lucas esteve com Paulo em Cesaréia. Pensa-se
que foi por esse tempo que ele escreveu seu Evangelho. Esta é a única visita de
Lucas a Jerusalém de que se tem notícia. Sem dúvida, aproveitou oportunidades
de visitar Jerusalém muitas vezes, talvez também a Galiléia, para conversar com
todos os apóstolos e primeiros companheiros de Jesus que pôde encontrar. Maria,
mãe de Jesus, podia ainda estar viva, de cujos lábios ele pode ter ouvido,
diretamente, a história com que inicia o seu Evangelho.
Israel moderno, cônscio da sua história como nação, toma
grande cuidado dos monumentos históricos antigos, e há alguns anos Cesaréia
recebeu a atenção dos arqueólogos. As obras do porto antigo têm sido examinadas
por escafandristas, que obtiveram informações interessantes. O teatro está
sendo escavado, e um achado surpreendente tem sido uma inscrição fragmentária
com o nome de Pôncio Pilatos. A cidade era seu quartel-general como Procurador
romano, e cenário de um debate famoso entre ele e uma deputação de judeus de
Jerusalém. Obstinado e arrogante, Pilatos tinha pendurado escudos votivos no
palácio de Herodes, consagrado ao Imperador. Os judeus, enviando representantes
ao Imperador Tibério, venceram na sua objeção contra símbolos pagãos na Cidade
Santa, e Pilatos tinha que levar ao santuário de Roma, em Cesaréia, estes
símbolos de sua lealdade desajeitada ao Império.
a)
Paulo perante Félix, 24:1-27. As acusações, v. 5: era “uma peste”, acusação
muito vaga; “promotor de sedições entre os judeus”, absolutamente falso, porque
Paulo invariavelmente ensinava obediência ao governo; “tentara profanar o
templo”, v. 6, levando lá Trófimo, 21:29, o que não fez; “principal agitador
dos nazarenos”, o que ele reconheceu e que não era contra nenhuma lei, judaica
ou romana. Paulo nunca deixou de mencionar a ressurreição, v. 15.
Félix casara-se com uma judia, estava familiarizado com
as praxes judaicas e conhecia algo a respeito de Cristo. Estava profundamente
impressionado e mandou chamar Paulo para que lhe explicasse mais o Evangelho,
com o que ficou aterrorizado. Sua cupidez, porém, v. 26, impediu que ele
aceitasse Cristo ou soltasse Paulo.
Festo foi nomeado sucessor de Félix em 60 d.C. Foi no
intervalo entre a partida de Félix e a chegada de Festo que as autoridades de
Jerusalém se aproveitaram da ausência de um oficial romano do executivo e
assassinaram Tiago, irmão de Jesus.
b)
Paulo perante Festo, 25:1-12. Os judeus ainda armavam emboscada a Paulo, v. 3,
porque parece que tinham pouca esperança de convencer um governador romano de
ter Paulo feito alguma coisa digna de morte. Sendo acusado perante Festo e
vendo que este se propunha a agradar aos judeus, e que não havia esperança de
que lhe fizessem justiça. Paulo anunciou, ousadamente, a Festo, que estava
pronto a morrer se merecesse a morte, e apelou para César o que como cidadão
romano tinha o direito de fazer. Diante disto, Festo nada pôde fazer senão
anuir à apelação. Naquele tempo o César era Nero, bruto e desumano. Paulo,
porém, sabia que, se deixasse o seu caso com Festo, seria devolvido ao sinédrio
judaico, o que significaria condenação certa. Sendo assim, escolheu Nero. Além
disso, queria ir a Roma.
c)
Paulo perante Agripa, 25:13-26:32. O discurso de Paulo perante Agripa e o outro
em Atenas são, geralmente, considerados dois dos mais soberbos exemplos de
oratória da literatura. São ambos muito breves, simples resumo do que ele deve
ter dito, porque é dificilmente crível que, num e noutro caso, ele falasse
menos de uma hora.
Esse Agripa era Herodes Agripa II, filho de Herodes
Agripa I, que, 16 anos antes, matara Tiago, o irmão de João, 12:2; era neto de
Herodes Antipas que matara João Batista e escarnecera Jesus, e bisneto de
Herodes, o Grande, que trucidara os meninos de Belém, ao tempo de nascimento de
Cristo. Sua capital era Cesaréia de Filipe, próxima do cenário da
transfiguração de Jesus, 30 anos antes.
Berenice era sua irmã, vivendo com ele como esposa. Fora
casada com dois reis, voltara para ser esposa do próprio irmãos, e mais tarde
veio a ser amante de Vespasiano e Tito. Imagine-se Paulo a defender-se diante
de um par de pessoas desse quilate.
Agripa, cuja família estivera tão intimamente relacionada
com toda a história de Cristo, naturalmente estava curioso por ouvir um homem
do calibre de Paulo, que tanta excitação causara entre as nações a respeito de
uma Pessoa que sua própria família houvera condenado.
A única discordância que Festo pôde ver entre Paulo e
seus acusadores era que aquele pensava ainda estar vivo Jesus, ao passo que os
acusadores O julgavam morto, 25:19.
A grande pompa, v. 23, que Festo arranjou para a ocasião
era testemunho da personalidade dominante de Paulo, porque certamente um preso
comum não provocaria tal exibição de esplendor real.
Notar a cortesia uniforme de Paulo, do princípio ao fim,
se bem que conhecesse o caráter dissoluto do rei.
Notar, outrossim, que ele reconheceu ser a ressurreição
de Jesus a única causa da questão. (H. H. Halley).
d)
Previdência Divina. A história revela que a maldade humana é controlada pela
soberania divina. Os judeus desejavam que Paulo fosse transferido de Cesaréia
para Jerusalém. Tivesse Festo atendido às exigências deles, talvez o Novo
Testamento não contasse com Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom.
(Sanders). Além disso, estava a salvo de todos os judeus.
Chegou a ser manifesto a todos (Filipenses 1:12, 13).
Teve oportunidade para testificar aos soldados que o guardavam. Foi visitado
por amigos das diferentes igrejas (Filipenses 2:25; 4:10).
8. A prisão de Paulo em Roma
Roma era chamada de “Cidade rainha da terra”. O Grande
centro de interesse histórico. Durante dois milênios (2.º séculos a.C. ao 18.º
d.C.) foi a potência dominadora do mundo. É ainda chamada “Cidade Eterna”. A
população, na época de Paulo, era de 1 milhão e meio de seres humanos, metade
de escravos. Capital de um império que se estendia 4.800 km de leste a oeste,
3.200 km
de norte a sul. A população total do Império era de 120 milhões de almas. Por
apelar a César, o Apóstolo aos gentios teve que ir para Roma.
a) A viagem de Paulo a Roma (At 27:1-28:15)
Essa viagem começou no
outono de 61 d.C. e terminou na primavera de 62 d.C.
Foi feita em três navios: Um de Cesaréia a Mirra; outro
de Mirra a Malta; o terceiro de Malta a Potéoli.
“O jejum”, v. 9, foi dia da expiação, mais ou menos no
meado de setembro. Daquele tempo ao meado de novembro a navegação no
Mediterrâneo era perigosa. Do meado de novembro ao primeiro de março esteve suspensa.
Pouco depois de ter deixado Mirra, caíram em ventos
contrários, e depois de se abrigarem um pouco em Bons Portos, se
arriscaram outra vez, e foram acometidos por um tufão que os levou longe da sua
rota; depois de muitos dias, não havendo mais esperança, Deus, que dois anos
antes, em Jerusalém, prometera a Paulo que o levaria a Roma, 23:11, mais uma
vez aparece a Paulo para lhe assegurar que Sua promessa seria cumprida, 27:24.
E foi.
Paulo foi levado a Roma com mais uns presos. Foi confiado
a um centurião e alguns soldados da corte imperial. Aristarco e Lucas o
acompanharam. Embarcaram, navegaram ao longo da costa de Creta, de onde uma
tempestade veemente de vários dias os levou para a costa de Malta. O navio
encalhou num escolho e os náufragos passaram o inverno na ilha. Depois navegaram
via Sicília até Potéoli, onde Paulo e seus companheiros durante oito dias foram
hóspedes da comunidade cristã. Pela Via Ápia chegaram a Roma .
Paulo
em Roma
A primeira coisa que Paulo fez ao chegar a Roma foi
convocar os líderes judeus para poder justificar-se das acusações contra ele, e
para obter uma audiência amigável. É este o último registro de sua tentativa da
ganhar os judeus. Observemos o resultado da sua pregação (28:24-28; compare com
Mateus 13:13-15; João 12:40; Mateus 21:43).
Paulo passou dois anos ali, no mínimo, 28:30. Apesar de
ser prisioneiro, tinha licença de morar numa casa própria alugada, com seu
guarda, 28:16. Tinha licença de receber visitas, e de ensinar sobre Cristo. Já
havia um bom número de cristãos ali (ver as saudações que enviou três anos
antes, Rm 16). Os dois anos que Paulo passou ali foram muito frutíferos,
atingindo o próprio Palácio, Fp 1:13; 4:22. Enquanto estava em Roma, escreveu
as Epístolas aos Efésios, Filipenses, Colossenses, Filemom e possivelmente,
Hebreus.
b)
O consolo de Paulo em Roma
Em Roma P. obteve licença de, embora guardado sempre por um
soldado, morar em casa própria, junto com os companheiros de viagem, e podia
receber livremente qualquer pessoa (Cl 4,10). Logo apareceram diversos de seus
colaboradores, bem como representantes da maioria das comunidades cristãs: Timóteo
(Cl 1,1), Marcos (4,10), Epafras de Colossos (1,6s), Tíquico da Ásia Menos
(provavelmente Éfeso; 4,7) Demas Justo (Cl 4,11), Lucas (4,14), Marcos (Fm 24),
Onésimo (Fm; Cl 4,9). Dois deles, Aristarco e Épafras (At 27,1; Cl 4,10; Fm
23), compartilharam voluntariamente sua prisão. P. aproveitou-se de sua
relativa liberdade para pregar o evangelho: primeiro, novamente, aos judeus (At
28,17-28), mas também aos soldados que o guardavam e a outros romanos (Fp.
1,12s). Em Roma P.
escreveu as chamadas “Epístolas do cativeiro” (Ef, Cl, Flp, Fm). Nas duas
últimas transparece a sua esperança de ser libertado em breve (Fm 22; Flp 1,26;
2,24). At 28,30 parece sugerir a mesma coisa, pois Lucas, embora comunique que
P. morou dois anos naquela casa, não diz nada sobre o resultado do processo.
c)
Especulações sobre os últimos dias de
Paulo
Os últimos anos de Paulo só conhecemos (fazendo-se
abstração das informações de Clemente romano) por uma combinação de dados
avulsos das epístolas pastorais. Alguns opinam que o apóstolo foi executado durante
a perseguição de Nero, em 64.
Conforme os outros Paulo teria visitado a Espanha (Rm
15,24.28) e ainda teria trabalhado em Creta (Ti 1,5), Éfeso (1Tim 1,3), de onde
visitou talvez Colossos (Fm 22), Hierápolis, Laodicéia e Mileto (2 Tim4,20), e
na Macedônia. Em Nicópolis, no Epiro (Tt 3,12), teria escrito Ti e 1Tim.
Alguns pensam que P. penetrou até na Ilíria (2Tim 4,10),
voltando depois por Tróade (2 Tim 4,13) para Éfeso (1 Tim 3,14). Em todo caso,
2 Tim supõe que P. foi preso novamente, e está em Roma (2 Tim 1,8. 16s; 2,9),
onde só Lucas ficou com ele (4,10s).
Paulo queixa-se de que na sua primeira defesa os cristãos
da Ásia Menor o abandonaram (1,15). Não há nenhum indício de contato com o
apóstolo Pedro. Paulo menciona, entretanto, o apoio de alguns discípulos fiéis:
Onésimo, Tito, Crescente, Tíquico, que havia mandado respectivamente à
Dalmácia, à Galácia (ou à Gália?) e a Éfeso (4,10.12), e prepara-se para o
martírio (4,7s).
d)
A execução de Paulo
Deduz-se da tradição e de algumas referências, que Paulo
foi posto em liberdade por mais ou menos 2 anos (veja Filipenses 1:24-26;2:24;
Filemom 24; 2 Timóteo 4:17). Nesse período de liberdade provavelmente escreveu
as epístolas a Timóteo e a Tito.
Acredita-se que depois desses dois anos, Paulo foi
novamente preso e finalmente executado durante a perseguição que Nero promoveu
contra os cristãos.
Diz-se a tradição que, como resultado de haver apelado
para César, após dois julgamentos no ano 68 d.C., Paulo foi executado, fora da
cidade.
Relata-se que Nero saiu
de viagem enquanto Paulo estava em Roma. Entretanto, uma de suas concubinas foi
ganha para o Senhor por intermédio do apóstolo. Quando Nero voltou para casa,
ela havia juntado a um grupo cristão, abandonando o imperador. Nero ficou tão
furioso que descarregou sua ira sobre Paulo, que foi levado para a Via Óstia
onde o executaram.
conclusão
A maneira pela qual Paulo usou seus infortúnios deveria
estimular os que estão “presos” em virtude de má saúde ou de outros motivos, a
serem engenhosos na busca de meios pelos quais possam usar as circunstâncias
limitadoras com vantagem. Paulo está agora prestes a passar a tocha ao jovem
Timóteo. “Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas”, escreve ele; “suporta as
aflições, faze o trabalho de evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério.
Quanto a mim, estou sendo já oferecido por libação, e o tempo da minha partida
é chegado. Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora
a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará
naquele dia” (2 Timóteo 4;5-8).
Visto que o seu próprio ministério chegava ao fim, Paulo
exortava Timóteo a cumprir cabalmente o dele, a qualquer custo. A palavra grega
“partida” é a mesma usada com referência a soltar as amarras de um navio. O apóstolo
estava zarpando da praia celestial, porém fazia-o com um senso de “missão cumprida”.
Que modelo para Timóteo – e para nós também! A tocha está agora em nossas mãos!
JESUS CRISTO
VOLTARÁ
VOCÊ EstÁ
preparado?