sábado, 5 de novembro de 2011

SERMÃO DE JOHN WESLEY - SOBRE A ETERNIDADE

SOBRE A ETERNIDADE
John Wesley

“Para todo o sempre, tu és Deus”. (Salmos 90:2)

1. Eu, de bom grado, falaria deste maravilhoso assunto, --- eternidade. Mas como podemos compreendê-lo em nosso pensamento? Ele é tão vasto, que a mente estreita do homem está completamente incapacitada disto. Mas ele não carrega alguma afinidade com outra coisa incompreensível, -- a imensidão? O espaço, embora uma coisa imaterial, pode ser comparada com a duração de outra coisa imaterial? O que é a imensidão? Ela é um espaço infinito. Ela é de duração infinita.

2. Eternidade tem geralmente sido considerada como divisível em duas partes; que são denominadas de eternidade, a parte anterior e a parte posterior, -- ou seja, em Inglês claro, aquela eternidade que é passado, e aquela eternidade vindoura. E não parece existir uma insinuação desta distinção no texto? “Tu és Deus desde sempre”: -- Aqui está uma expressão daquela eternidade que é passado: “Para sempre” – Aqui está uma expressão daquela eternidade que é vindoura. Talvez, na verdade, alguns possam pensar que não é estritamente apropriado dizer que existe uma eternidade que é passado. Mas o significado é facilmente entendido: Nós queremos dizer, por meio disto, a duração que não tem começo: quanto à eternidade vindoura, aquela duração que não tem fim.

3. É Deus apenas (para usar a linguagem sublime das Escrituras) quem “habita a eternidade”, em ambos os sentidos. O grande Criador apenas (não alguma de suas criaturas) é “de sempre a sempre”.  Sua duração apenas, já que ela não teve começo, então não pode ter algum fim. Nesta consideração é que alguém fala assim, ao endereçar-se a Emanuel, Deus conosco: --

Salve, Deus o Filho, com glória, coroado
Prévio ao tempo, que começou a existir,
Entronizado com Sua Vossa Majestade,
Por metade da esfera
Da ampla eternidade!

E novamente --
Salve, Deus o Filho, com glória, coroado
Prévio ao tempo, que deixará de existir;
Entronizado com o Pai,
Por toda a esfera,
De toda a eternidade!
  
4. “Antes que o tempo existisse”,  -- Mas o que é o tempo? Não é fácil dizer, tão freqüentemente quanto nós temos a palavra em nossas bocas. Nós não sabemos o que ele propriamente é. Não podemos satisfatoriamente defini-lo.Mas ele não é, no mesmo sentido, um fragmento da eternidade, interrompido em ambas as extremidades? – aquela porção de duração, que começou quando o mundo foi criado, que continuará por quanto tempo este mundo durar, e, então, expirará para sempre? – aquela porção dele, que é, no momento,  medido pelo movimento do sol e planetas; estendendo-se (por assim dizer), entre duas eternidades, a que é passado, e a que é vindoura. Mas, tão logo os céus e terras passarem da face Dele, que se senta no grande trono branco, o tempo não mais existirá; mas mergulhará para sempre no oceano da eternidade!

5. Mas, através de que meios, pode um homem mortal, uma criatura de um dia, formar alguma idéia da eternidade? O que podemos encontrar, no limite da natureza, para ilustrar isto? Com o que podemos comparar isto? O que existe que carrega alguma semelhança com isto? Não parece existir alguma espécie de analogia, entre a duração ilimitada, e o espaço infinito? O grande Criador, o Espírito infinito, habita, tanto em um, quando no outro. Esta é uma de suas peculiares prerrogativas: “Eu não preencho céu e terra, diz o Senhor?” – sim, não apenas as regiões mais extremas da criação, mas toda a expansão do espaço infinito! Entretanto, quantos dos filhos dos homens podem dizer:

Veja, numa estreita língua de terra,
Em meio a dois mares ilimitados, eu permaneço,
Seguro, inconsciente!
Um instante do tempo, um espaço momentâneo,
Remova-me para aquele lugar celestial,
Ou me encarcere no inferno!

6. Mas, deixando um desses mares infinitos para o Pai da eternidade, a quem somente a duração, sem começo, pertence, vamos nos concentrar na duração sem fim.  Este não é um atributo incomunicável do grande Criador; mas ele se agradou graciosamente de tornar inumeráveis multidões de suas criaturas, parceiras dela. Ele tem concedido isto, não apenas aos anjos, e arcanjos, e todas as companhias do céu, que não são pretendidos morrer, mas glorificarem a ele, e viverem em sua presença para sempre; mas também para os habitantes da terra, que habitam em casas de barro. Seus corpos, de fato, estão “destruídos diante da traça”; mas suas almas nunca morrerão; Deus as fez, como o escritor antigo fala, para sem “retratos de sua própria eternidade”.  Na verdade, todos os espíritos, nós temos motivos para acreditar, estão vestidos com a imortalidade; tendo nenhum principio interior de corrupção, e não estando inclinados à violência externa.

7. Talvez, possamos dar um passo além ainda: A própria matéria, assim como o espírito, não é em um sentido eterna? Nem, na verdade, a parte precedente, como alguns filósofos insensatos, tanto antigos, quanto modernos, têm sonhado. Não que alguma coisa tenha existido, desde a eternidade: observando-se que, se fosse assim, deveria ser Deus; sim, deveria ser, através do Deus Único; porque é impossível que houvesse dois Deuses, ou dois Eternos. Mas, embora nada além do grande Deus pode ter existido desde a eternidade , -- ninguém mais possa ser eterno na parte precedente; ainda assim, não existe absurdo em supor que todas as criaturas sejam eternas na parte posterior. Toda matéria, de fato, está continuamente mudando, e isto em dez mil formas; mas ela ser mutável, de maneira alguma, implica que é perecível. A substância pode permanecer uma e a mesma, embora sob inúmeras formas diferentes. É muito possível que alguma porção da matéria possa separar-se em átomos dos quais ela foi originalmente composta: Mas que razão temos para acreditar que algum desses átomos sempre foi, ou sempre será aniquilado? Ele nunca poderá, a menos, através do poder incontrolável de seu todo-poderoso Criador. E é provável que Ele sempre exercerá este poder em desfazer alguma das coisas que ele fez? Nisto também, Deus não é “um filho do homem, para que ele possa se arrepender”. Na verdade, toda criatura debaixo do céu muda, e deve continuamente mudar sua forma, o que nós podemos agora facilmente levar em consideração; uma vez que aparece claramente das recentes descobertas, que o fogo etéreo entra na composição de cada parte da criação. Agora, isto é essencialmente edax rerum [devorador do tempo]: É uma menstruum [substância], um discohere [solvente] universal de todas as coisas debaixo do sol. Através desta força  até mesmo os corpos mais fortes, os mais firmes são dissolvidos. Do experimento repetidamente feito pelo grande Lorde Bacon, aparece que, até mesmo os diamantes, através de um grau altíssimo de calor, pode virar pó: e que, em um grau ainda maior (estranho como isto possa parecer), desaparecer totalmente. Sim, através disto os próprios céus serão dissolvidos: “os elementos deverão se derreter, com o calor fervente”.  Mas eles serão apenas dissolvidos, e não destruídos; eles derreterão, mas não perecerão. Embora eles percam sua presente forma, ainda assim, nem uma partícula deles perderá, alguma vez, sua existência; mas cada átomo deles permanecerá, sob uma forma ou outra, para toda a eternidade.

8. Mas, ainda poderíamos inquirir: o que é esta eternidade? Como poderíamos emitir alguma luz sobre este assunto difícil? Ele não pode ser o objeto de nosso entendimento. E com que parâmetro poderíamos compará-lo? Quão infinitamente ele transcende todos esses! O que são quaisquer coisas temporais, colocadas em comparação com aquelas que são eternas? Qual é a duração de um carvalho longevo, de um castelo antigo, da Coluna de Trajano, do Anfiteatro de Pompéia? O que é a antigüidade das Urnas de Tuscano, embora provavelmente mais antiga do que a fundação de Roma; sim, das Pirâmides do Egito, supondo-se que elas tenham permanecido, por mais de três mil anos: -- quando colocados na balança com a eternidade? Isto desaparece no nada. Mais ainda, qual é a duração das “colinas eternas”, figurativamente assim chamada, que têm permanecido desde o dilúvio geral, se não, desde a fundação do mundo, em comparação com a eternidade? Não mais do que uma insignificante cifra, Para ir mais além, ainda: Considerem a duração, desde a criação dos primogênitos filhos de Deus, de Miguel, o Arcanjo, em especial, do momento em que ele for incumbido de soar a sua trombeta, e proferir sua voz poderosa, através da abóbada celeste: “Levantem-se, vocês que estão mortos, e venham para o julgamento!”. Não é um momento, um ponto, um nada, em comparação à eternidade insondável? Acrescente a isto mil, um milhão de anos, acrescente milhões de milhões de anos, “antes que as montanhas surgissem, ou a terra e o mundo redondo fosse feito”:  O que é tudo isto, em comparação com a eternidade, que é passado: Não é menos, infinitamente menos do que um dia, uma hora, um momento, para um milhão de eras! Voltem atrás milhões de anos ainda; mesmo assim, você não está nem perto do começo da eternidade.

9. Será que nós estamos mais capacitados a formar uma concepção mais adequada da eternidade vindoura? Com este objetivo, vamos comparar isto com os diversos graus de duração, com os quais estamos familiarizados – Uma efemérida vive seis horas; das seis da tarde à meia-noite. Esta é uma vida curta se comparada com aquela de um homem, que continua sessenta ou oitenta anos; e isto em si mesmo é curto, se comparado aos novecentos e sessenta e nove anos de Matusalém. Ainda assim, o que são esses anos, sim, todos os que sucederam um ao outro, desde o tempo que os céus e a terra foram criados, até o tempo, quando os céus passarão, e a terra com as obras dela serão queimadas, se compararmos isto com a extensão daquela duração que nunca terá fim?

10. Com o objetivo de ilustrar isto, um falecido autor repetiu aquele admirável pensamento de Cripriano: “Suponha que existisse uma bola de areia, tão grande quanto o globo terrestre: suponha que um grão desta areia fosse para ser aniquilado, reduzido a nada, em mil anos: ainda assim, todo aquele espaço de duração, em que esta bola seria aniquilada, no caso de um grão, em mil anos, seria infinitamente menor, em proporção à eternidade, duração sem fim, do que um simples grão de areia seria para toda a magnitude!”.

11. Para gravarem este ponto importante o mais profundamente em suas mentes, considerem uma outra comparação: -- Suponham que o oceano seja tão amplo, de maneira a incluir todo o espaço entre a terra e os céus estrelados. Suponham que uma gota deste fosse para ser aniquilada, em milhares de anos; ainda assim, todo aquele espaço de duração, em que este oceano seria aniquilado, no caso de uma gota em mil anos, seria infinitamente menor em comparação com a eternidade, do que uma gota de água para todo aquele oceano.

Observem, então, estes espíritos imortais, se eles estão neste ou no outro mundo. Quando eles deverão ter vivido milhares de milhares de anos, sim, milhões de milhões de eras, a duração deles será como se apenas começando: Eles estarão apenas no limiar da eternidade!

12. Mas, além desta divisão da eternidade, naquela que é passado, e naquela que é vindoura, existe uma outra divisão da eternidade, que é de inexprimível importância: Aquela que está por vir, quanto se refere aos espíritos imortais, é tanto eternidade feliz, quanto eternidade miserável.

13. Vejam os espíritos dos retos que já estão orando a Deus, na eternidade feliz! Nós estamos prontos a dizer: Quão breve ela parecerá àqueles que bebem dos rios de prazer à direita de Deus! Estamos prontos para clamar alto:

Um dia, sem noite,
Eles habitam às vistas Dele,
Uma eternidade parece como um dia

Mas, isto é apenas falar, segundo a maneira de homens: Porque as medidas de muito e pouco são apenas aplicáveis ao tempo que admite limite, e não para o de duração ilimitada. Este gira (de acordo com nossas concepções inferiores) com velocidade indizível e inconcebível; se alguém, preferivelmente não disser que ele não gira ou se move, afinal, mas é um oceano ainda imóvel.  Porque os habitantes do céu, “não descansam dia e noite”, mas continuamente clamam: “Santo, santo, santo, é o Senhor, e Deus, e Altíssimo, que viu, e que é, e que virá!”. E, quando milhões e milhões de eras passarem, a eternidade deles terá apenas começado.

14. Por outro lado, em que condição, estes espíritos imortais que têm feito a escolha de uma eternidade miserável! Eu digo, feito a escolha; porque é impossível que esta possa ser a sina de alguma criatura, a não ser através de seu próprio ato e feito. O dia está chegando, quando toda alma será constrangida a reconhecer, à vista de homens e anjos:

Nenhum decreto terrível de ti selaria
Ou fixaria a inalterável sentença
Confiaria minha alma inata ao inferno,
Ou me condenaria do útero de minha mãe.

Em que condição, tal espírito estaria depois da sentença executada: “Parta, você amaldiçoado, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos!”.  Suponha que ele esteja exatamente agora mergulhado no “lago de fogo ardente com enxofre”, onde “eles não têm descanso, dia ou noite, a não ser a fumaça de seus tormentos subindo, sempre e sempre”. “Para sempre e sempre!”. Porque, se nós fossemos ficar presos um dia, sim, uma hora, em um lago de fogo, quão espantosamente longo parecia um dia ou uma hora! Eu não sei se não pareceria como mil anos. Mas (pensamento terrível), depois de milhares e milhares, ele teria apenas testado de seu cálice amargo! Depois de milhões, não estaria mais perto do fim do que se estivesse no momento em que ele começou!

15. Quem é este, então, – quão tolo, quão louco, e que grau indescritível de distração – que, parecendo ter o entendimento de um homem, deliberadamente prefere as coisas temporais às eternas? Quem (admitindo este absurdo, oposição incrível, de que a maldade é felicidade, -- uma suposição extremamente contrária a toda razão, assim como ao fato) prefere a felicidade de um ano, digamos mil anos, à felicidade da eternidade, em comparação a qual, mil anos são infinitamente menos do que um ano, um dia, um momento? Especialmente, quando tomamos isto em consideração (o que, de fato, nunca deveria ser esquecido) que o recusar a eternidade feliz, implica a escolha da eternidade miserável: Porque não existe, não pode existir, meio termo entre alegria eterna e dor eterna. É um pensamento inútil que alguns têm nutrido, de que a morte porá um fim, nem em um, nem em outro: isto apenas altera a maneira da existência delas. Mas, quando o corpo “retornar para o pó como ele era, o espírito retornará a Deus que o deu”.  Portanto, no momento da morte, deve ser inexplicavelmente feliz, ou inexplicavelmente miserável.  E esta miséria nunca terminará.

Nunca! Onde mergulha a alma naquele terror imenso?
Em um abismo, quão escuro, e quão profundo!

Quão freqüentemente ele, que fez a escolha desprezível, deseja pela morte, ambas da alma e corpo! Não é impossível que ele orasse de tal maneira como Dr. Young supõe:

Quando eu tiver me contorcido, dez mil anos no fogo,
Dez mil vezes mil, permita-me, então, expirar!

16. Ainda assim, esta inexplicável tolice, esta loucura indescritível, de preferir as coisas presentes à eterna, é a doença de todo homem no mundo, enquanto em seu estado natural. Porque tal é a constituição de nossa natureza, já que os olhos vêem apenas tal porção do espaço, de uma só vez, então, a mente vê apenas tal porção de tempo, de uma só vez. E uma vez que todo o espaço que se estende além daquela esfera é invisível para  a mente. Assim sendo, nós não percebemos quer o espaço ou o tempo que está a uma distância de nós. Os olhos vêem distintamente o espaço que está perto dele, com os objetos que ele contém: De igual maneira, a mente vê distintamente aqueles objetos que estão dentro de tal distância de tempo. Os olhos não vêem as belezas da China: Eles estão a uma grande distância. Existe um espaço muito grande, entre nós e eles: Conseqüentemente, não somos afetados por eles. Eles são como nada para nós: É exatamente o mesmo para nós, como se eles não existissem. Pela mesma razão, a mente não vê, quer as belezas ou os terrores da eternidade. Nós não somos afetados, afinal, por eles, porque eles estão também distantes de nós.  Por esta razão, é que eles parecem como nada para nós: exatamente como se eles não tivessem existência. Entretanto, somos totalmente estimulados com as coisas presentes, seja no tempo ou no espaço; e as coisas parecem cada vez menores, à medida que estão mais e mais distantes de nós, quer em um respeito ou em outro. E assim deve ser: tal é a constituição de nossa natureza; até que a natureza seja mudada pela graça onipotente. Mas isto não é forma de desculpas para aqueles que continuam em sua cegueira natural para a futuridade: porque um remédio para isto é fornecido, o qual é encontrado por todos que o buscam: Sim. Ele é livremente dado a todos que sinceramente pedem por ele.

17. Este remédio é a fé. Eu não quero dizer aquela que é a fé de um pagão, que acredita que existe um Deus, e que ele é um recompensador daqueles que diligentemente o buscam; mas aquela que é definida pelo Apóstolo: “uma evidência”, ou convicção, “das coisas não vistas”;  uma evidência e convicção divina do mundo invisível e eterno. Esta apenas abre os olhos do entendimento, para ver Deus e as coisas de Deus. Esta, por assim dizer, tira fora ou atribui transparência ao véu impenetrável...

O qual sustenta a ‘giro da existência mortal e imortal,
quando a fé empresta sua luz realizadora,
as nuvens se dispersam, as sombras fogem,
o invisível aparece aos olhos,
e Deus é visto pelo olho mortal.
           
Assim sendo, um crente, no sentido bíblico, vive na eternidade, e caminha na eternidade. Seu panorama é alargado: Sua visão não é mais limitada pelas coisas presentes: Não; nem pelo hemisfério terrestre. Embora fosse, como Milton fala; “dez vezes mais o comprimento deste terreno”. A fé coloca o mundo invisível e eterno continuamente diante de sua face. Conseqüentemente, ele não olha para “as coisas que são vistas”;

Riqueza, honra, prazer, ou o que for
Que este mundo passageiro pode dar

Estes não são os objetivos dele, o objeto de sua busca, seu desejo ou felicidade; -- mas “as coisas que não são vistas”; no favor, imagem e glória de deus; assim como sabendo que “as coisas que são vistas são temporais”,  -- um vapor, uma sombra, um sonho que desaparece; enquanto que “as coisas que não são vistas são eternas”; reais, sólidas, imutáveis.

18. O que, então, pode ser uma ocupação mais conveniente para um homem sábio, do que meditar sobre essas coisas? Freqüentemente expandir seus pensamentos “além dos limites desta esfera diurna”,  e vaguear acima, atém mesmo, dos céus estrelados, no campo da eternidade? Quais meios existiriam para confirmar seu desprezo pelas coisas pobres e pequenas da terra! Quando um homem de grandes posses estava vangloriando-se para seu amigo da extensão de sua propriedade, Sócrates pediu que ele trouxesse um mapa da terra, e apontou Ática [região da Grécia antiga, próxima a Atenas] nele. Quando isto foi feito (embora não muito facilmente, já que se tratava de uma região pequena), ele em seguida pediu que Alcebíades indicasse sua própria propriedade nele. Quando ele não pôde fazer isto, foi fácil observar quão insignificantes eram as posses, pelas quais ele estava tão orgulhoso de si mesmo, em comparação à toda terra. Quão aplicável é isto para o presente caso! Alguém se vangloria de suas posses terrenas? Ai de mim, o que é todo o globo terrestre para o espaço infinito! Uma mera partícula da criação. E o que é a vida do homem, sim, a duração da própria terra, a não ser uma partícula de tempo, se comparada com a extensão da eternidade! Pense sobre isto: Deixe isto mergulhar em seus pensamentos, até que você tenha alguma concepção, mesmo que imperfeita daquele abismo, enorme, insondável, sem um fundo ou margem

19. Mas, se a nua eternidade, por assim dizer, for um objeto tão imenso, tão espantoso, de maneira a oprimir seu pensamento, como ela ainda amplia a idéia de observá-la revestido de felicidade ou miséria? Bem-aventurança eterna ou dor! Felicidade eterna, ou miséria eterna! Alguém poderia pensar que ela absorveria todo outro pensamento em toda criatura razoável.  Permita-me apenas isto, -- “Tu estás na iminência tanto da eternidade feliz quanto miserável; teu Criador te ordena agora a esticar tua mão, quer em direção a uma ou a outra”; -- e alguém imaginaria que nenhuma criatura racional poderia pensar sobre alguma coisa mais. Alguém poderia supor que este ponto simples monopolizaria toda a atenção dele. Certamente, ele deveria assim fazer: Certamente, se essas coisas são assim, pode existir a não ser uma coisa necessária . Ó, que você e eu, pelo menos, o que quer que outros façam, escolhamos aquela melhor parte que nunca deverá ser tirada de nós!.

20. Antes que eu encerre este assunto, permita-me tocar em duas passagens notáveis em Salmos (uma no oitavo, a outro, centésimo quadragésimo quarto), que tem uma relação próxima a isto. A primeira é: “Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que estabeleceste, que é o homem, para que te lembres dele? E o filho do homem, para que o visites?”. Aqui o homem é considerado como uma cifra, um ponto, comparado com a imensidade. A última é: “Ó Senhor, que é o homem, para que tomes conhecimento dele, e o filho do homem, para que o consideres? O homem é semelhante a um sopro; os seus dias são como a sombra que passa?”. Este não é um pensamento que tem golpeado muitas mentes sérias, assim como ele o fez com Davi e criou uma espécie de temor, que se ergue de uma espécie de suposição de que Deus é tal como nós mesmos? Se nós considerar o espaço infinito, ou a duração infinita, nós retrocedemos ao nada antes dele. Mas Deus não é um homem. Um dia, e milhões de anos, são a mesma coisa para ele. Portanto, existe a mesma desproporção entre Ele a algum ser finito, como entre Ele e a criatura de um dia. Portanto, quando quer que o pensamento ocorra,; quando quer que você seja tentado a temer, a fim de que não possa ser esquecido perante o imenso e eterno Deus, lembre-se que nada é pequeno ou grande; que nenhuma duração é longa ou curta, perante Ele. Lembre-se que Deus ita praesidet singulis sicut universis, et universis sicut singulis: Que ele “governa cada criatura individual, como se fosse o universo; e o universo, como se fosse cada indivíduo”.  De maneira que você pode corajosamente dizer:

Pai, quão amplamente tua glória brilha,
Senhor do universo --- e meu!
Tua bondade zela pelo todo,
Como se o mundo todo fosse uma só alma;
Ainda assim, considera cada um dos meus cabelos, sagrado,
Enquanto permaneço em teu simples cuidado!

[Editado por Shane Campbell, estudante da  Northwest Nazarene College (Nampa, ID), com correções de George Lyons para a Wesley Center for Applied Theology.]

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