MINISTÉRIO PALAVRA VIVA
SHAVUOT
Shavuot, chamada de Pentecostes, é a festa
do tempo, literalmente quer dizer semanas. Refere-se ao espaço de tempo das 7
semanas, contados a partir da páscoa judaica, o Pessach. Estas duas junto com
Sucot, Cabanas, são festivais chamados de "regalim"= caminhadas1 ,
nas quais se peregrinava até o Beit Hamidash = Casa Sagrada em Jerusalém. É
tempo de ir ao Templo, destacar2 o sagrado do cotidiano. Esta unidade espaço
temporal é análoga ao ensinamento da física moderna que demonstra a intrínseca
unidade espaço-tempo. Assim, embora siga linearmente o calendário da contagem
semanal, é preciso lembrar que os Tempos e os Espaços místicos são Outros, unos
entre si e distintos da racionalidade habitual que os dissocia. Desse modo, por
exemplo, a tradição mística judaica conta que a Torá já estava escrita antes da
própria criação, sendo só posteriormente outorgada ao povo judeu por ocasião de
Shavuot.
Shavuot sintetiza dois tempos, enquanto
tempo terreno agrícola como Yom Habicurim, Dia da Colheita, co-incide com as
primícias da colheita, espiritualmente levadas ao Templo Sagrado. Lembremos que
a Torá , como canta a liturgia, é chamada de Árvore da Vida. Shavuot enquanto
tempo espiritual se materializa na entrega da Torá , literalmente "Matan
Torá". A eternidade da Torá, partícipe da própria criação do universo, se
pontualiza neste dia, tal como a grande restrição Divina do Tzim-Tzum para
criação do mundo.
Após a libertação da escravidão contam 7 semanas,
7 x 7 = 49 dias, que se chama Sefirat HáOmer, até o recebimento, ou seja a
Cabalá da Torá, que será o Guia da travessia do deserto rumo a Terra Prometida.
Este tempo-espaço entre a libertação da escravidão e o recebimento da Torá ,
representa uma preparação, um processo de amadurecimento. É a diferença entre
se liberar e ser livre, a primeira tem a importância de se referir a se
libertar de algo ou alguém, corresponde a uma atitude reativa, da negação da
negação, do direito a dizer não, excluir, já ser livre implica em escolher numa
atitude proativa que implica no direito de dizer sim, de acatar. Só livre pode
o povo eleger a Torá, tal como conta tradição que a Torá foi oferecida a outros
povos mas foi o povo judeu que a aceitou para cumprir-lhe os mandamentos, daí
melhor compreendermos a significacão do povo eleito4 como povo eleitor, o que
elegeu seguir os preceitos da Torá .
O caminho da transcendência corresponde a
um processo maturacional5 e é uma das principais temáticas judaicas, aparecendo
de várias maneiras, tais como na criação do mundo em 7 dias, no episódio da
Árvore do Conhecimento comida antes do tempo6, no casamento prematurado de
David com Betsabá, nas orações7 de espera e purificação, como o Mikvê, as
ritualizações do Kasher e nas prescrições sobre as primícias do campo.
Também pode ser verificado no recebimento
da Torá , pois este se dá em 4 tempos, como se fossem quatro sendo ao mesmo
tempo uma única: a primeira Torá é dada na Explosão Oral Divina, insuportável
aos ouvidos8 dos israelitas, a segunda que foi quebrada por Moisés no episódio
do bezerro de ouro9 , a terceira recebida por Moisés e guardada na arca da
Aliança e a quarta escrita-oral, espaço-tempo, transmitida de geração em
geração, que é a que conhecemos. Estes 4 tempos correspondem ao ensinamento
cabalístico sobre a existência dos 4 mundos: o Mundo da Emanação ( Atzilut), da
Criação ( Briá ), da Formação (Yetzirá) e Realização (Assiá) e os 4 elementos
Fogo, Água, Ar e Terra.
O poema sapiencial Qohélet, Eclesiastes,
literalmente quer dizer " O que sabe " diz que para tudo, seu
momento, e tempo para todo o evento, sob o céu. Tempo de plantar e tempo de
colher. Shavuot é festa da contagem paradoxal do tempo, na junção da eternidade
onde reina a unidade do tempo de plantar e de colher. É tempo de caminhada e de
chegada, de ascenção, da junção do espiritual com o material, de saborear as
primícias dos frutos da Árvore da Vida renovadores e sonhar com a terra
prometida, a Jerusalém Celestial e a salvação Messiânica, quando cohabitará a
paz entre os seres vivos, ressuscitados em santidade. Colhemos
aquilo que plantamos. Primeiramente limpamos e aramos a santa terra, como nosso
corpo, para então colocarmos a semente, como na estória do pé de feijão mágico.
Há de se haver descido para poder se ascender.
Mesmo que tudo isto seja um sonho, quando
não é solitário passa a ser chamado de realidade. Por isso fazemos as
assembléias dos Sonhos em
Shavuot. Sonhar e contar com línguas de fogo. Além de sonhar
e contar vamos interpretar, pois um sonho não interpretado como diz a tradição
é uma carta que não foi aberta. Vamos começar nos apropriando agora do primeiro
sonho bíblico que é o de Jacó10 e interpretarmos juntos o seu sentido e
utilizarmos do instrumento místico que nos ensina que é a Escada de Jacob, na
escalada concreta do caminho espiritual.
1. As peregrinações, colocar o pé malkutiano na estrada, fazem parte de outras culturas que cultuam o crescimento espiritual como processo maturacional no caminho da transcedência. Assim, por exemplo, os sufis e o próprio Islam tem na ida a Meca, uma de suas 5 regras básicas, o Caminho de Santiago de Compostela para os cristão, da mesma forma que nós aqui no nosso Shavuoton, peregrinamos para um retiro, sacralizando este lugar e este momento.
2. Que é o sentido da palavra Kadosh=
sagrado como distinguir, destacar do comum .
3. O Sefer Yetzirá ensina sobre as contas,
os contos e a contação.
4. Assim como o povo israelita foi eleito para guardar e seguir a Torá , o muçulmano o foi para o Al-Corão, o cristão para os Evangelhos, o Hindu para o Bagawaghita, etc.
4. Assim como o povo israelita foi eleito para guardar e seguir a Torá , o muçulmano o foi para o Al-Corão, o cristão para os Evangelhos, o Hindu para o Bagawaghita, etc.
5. O processo maturacional é constitutivo
do ser humano em sua imaturidade essencial e natureza prematura.
6. Kafka disse que o homem perdeu o paraíso
por causa de sua pressa e para êle não retorna em função da sua preguiça.
7. Canta o salmista "Espera pelo
Senhor e tem bom ânimo" Sl 27:14
8. Analogamente a narrativa cabalista sobre a criação do mundo através das sefirot , os vasos da Árvore da Vida, que teriam se partido, a Schevirá, não suportando a primeira emanação da Divina Luz Infinita, o Ayn Sof Aor.
9. O dia 17 de Tamuz jejua-se diurnamente
para relembrar a quebra das Tábuas.
10. Jacó soube interpretar corretamente
transmitindo este dom a seu filho José, que bem antes de Freud, já interpretava
os sonhos.
A ESCADA DE JACÓB
Bereshit XXVIII "VAYETZÉ" (
"E SAIU")
Versículo10. - E saiu Jacob de Beer-Shéba,
e foi a Haran. E chegou ao lugar ( Makom12 ), e pernoitou ali, porque se havia
posto o sol. E tomou das pedras 13 do lugar, e colocou-as à sua cabeceira, e
deitou-se naquele lugar. E sonhou, e eis que uma escada 14 estava apoiada na
terra, e seu topo chegava aos céus: eis que anjos de D"S subiam e desciam
por ela. E eis que o Eterno estava sobre ela, e dizia: "Eu sou o Eterno,
D"S de Abrahão , teu patriarca, e D"S de Isaac. A terra sobre a qual
tú estás deitado , a ti darei-a, e à tua semente . E será tua semente como o pó
da terra, e te espalharás ao oeste, e ao leste, e ao norte, e ao sul. E se
abençoarão em ti todas as famílias da terra, e em tua semente ... ". E
despertou Jacob de seu sono, e disse: "Certamente o Eter-no está neste
lugar, e eu não sabia. E temeu e disse; "Quão espantoso é êste lugar! Êste
não é outro que a casa de D"S, e esta é o portal dos Céus ... e chamou o
nome daquele lugar BETH-EL.
A menção é de subiam e desciam e não o inverso, o que seria mais lógico, nos mostrando que circulam pela terra anjos, que tanto podem se referir àqueles que nos protegem quanto àqueles tal como Enoch que ascendeu na figura Arqui-angélica de Metraton. Mas para tanto utilizavam de uma escada e é esta escada que vamos meditar agora utilizando das transparências. Depois, para podermos atingir os quatro mundos vamos conectá-las em 4 entre si. Referindo-se ao próprio corpo, vamos colocar as 4 juntas de pé junto ao Monte Sinai e subir para o Cabalat Torá, o Recebimento da Torá, da Noiva/o
12. Uma das denominações de D"S é
HaMakom, O Lugar, também referido como Malkhut, O Reino e Schechina, A Divina
Presença, O Feminino Materializado de D"S. Como diz a canção popular
brasileira " Que a vida não é só isso que se vê, é um pouco mais que os
olhos não conseguem compreender, que as mãos não ousam tocar... sei lá ...não
sei não... a beleza do Lugar".
13. Conta o Rashi : "as pedras
começaram a brigar umas com as outras disputando ser o apoio da cabeça do
justo, então o Divino transformou-as numa pedra só. Lição de humildade que será
retomada em outras passagens tais como na disputa dos Montes do deserto para o
recebimento da Torá, que foi ganha pelo Monte Sinai pela sua singela modéstia,
ou ainda no Zoar na apresentação das letras frente ao Criador na gênesis do
mundo. Desta forma humilde, que vem de húmus=terra=adamá, que devemos entender
o adjetivo de povo eleito. O povo judeu foi o povo eleito para receber a Torá
sem dúvida, como o Budista do BaghavaGuita, o muçulmano o Al-Corão, o Cristão
os evangelhos e assim por diante. Povo eleito principalmente por ser ele o povo
eleitor que A elegeu. Tal como conta a tradição judaica que D"S havia
oferecido a Torá antes a outros povos, mas foi o povo judeu que a escolheu, acolheu e recebeu (Cabalá ).
14. , L C= sulam Será daí que a Sulamita
que nos canta os Cânticos a prova que o amor é uma ascese, uma ascensão ao
Senhor?
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